O ESTADO QUE FICOU REAÇA

A pergunta recorrente nas esquerdas é esta: como o Estado que elegeu Collares, Olívio e Tarso para o governo está cada vez mais sob a ameaça de uma duradoura hegemonia da direita?

A resposta não é a perplexidade. O Estado que elegeu Collares e Olívio Dutra não existe mais. Collares foi eleito em 1990. Olívio, em 1998. Talvez sobre um pouco do Estado que mais tarde elegeu Tarso.

Uma criança com 10 anos, quando os gaúchos elegeram seu primeiro governador negro, é hoje um homem com 38 anos. Um adolescente, quando o PT chegou ao poder, também é agora quase quarentão.

Os filhos e os netos dos eleitores de Collares e Olívio podem não ter nenhuma conexão política com seus pais e avós. Em muitas famílias, são seus opostos.

Assim como a classe média que deu lastro ao PT talvez não exista mais. Existem os sobreviventes, mas a classe média que ergueu as trincheiras da distribuição de renda, do ambientalismo, dos direitos humanos e das grandes questões da esquerda e que ainda elegeu Tarso em 2010 não se renova com a mesma potência e as mesmas ambições.

A nova classe média jovem é a das lutas identitárias (questões de ‘raça’, gênero, costumes etc) e aí, sabe-se, misturam-se centros, esquerdas e direitas. Tanto que muitos jovens, e não são poucos, que defendem a liberação da maconha votam em Bolsonaro.

Foram-se para o ralo o debate e as ações envolvendo classes e utopias. A esquerda se fragmentou, os partidos e o movimento estudantil perderam expressão. O drama gaúcho é parte do drama mundial, apenas com lenço, botas e bombacha. O golpe deu protagonismo ao reaça branco, racista, homofóbico e xenófobo.

Mas a direita ainda faz política formal do jeito antigo. É nesse contexto que se fortalece o discurso da república do relho. Regredimos ao século 19.

Como esperar uma reversão nesse ambiente em que o centro democrático desaparece e a militância do ódio estimula os fascistas?

Eu torço apenas para que os jovens voltem a pensar e agir como jovens, que os pobres não pensem como os ricos e que as mulheres não votem em quem as deprecia e humilha. Mas não é tão simples assim.

One thought on “O ESTADO QUE FICOU REAÇA

  1. Essas pesquisas são bem suspeitas.

    De repente, o SaRtori pula de 18 para 31 por cento e o tal Eduardo Leite, de 8 para 26 por cento. O primeiro todo mundo conhece e sabe que é ruim. O segundo é um completo desconhecido. Nenhuma campanha de 2 ou 3 minutos diários na televisão explica isso. Ainda mais porque o crescimento deles foi a custa dos candidatos de esquerda.

    O TSE do General Etchegoyen vai garantir os votos.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Website Protected by Spam Master


1 + 5 =