Top of Mind da Folha esconde o varejo quebrado e suas falcatruas

Pobre capitalismo brasileiro. A Folha Top of Mind usou uma estratégia tenebrosa para esconder marcas que não devem ser lembradas, em contradição com o objetivo da própria pesquisa.

Não há no levantamento nacional uma referência ao varejo no seu mais amplo sentido de loja que vende de tudo um pouco. Como sempre foi.

Há destaques em banco, saúde, bebida, alimentação, transporte. A pesquisa tem até, acreditem, as marcas campeãs em creme hidratante, esmalte, alívio de azia e má digestão e linguiça calabresa.

Mas não há, como em qualquer consulta do gênero, a pergunta óbvia: qual é a sua rede de varejo? O varejo sumiu da pesquisa sobre as preferências do brasileiro.

A relação mais próxima e de maior fidelidade de um consumidor é com o varejo, com a loja que o atende para qualquer demanda de bens duráveis, mesmo que essa relação vá se transferindo para o mundo virtual.

O consumidor não tem contato direto com o fabricante do esmalte, mas tem com a loja que vende esmalte, celular, geladeira, bicicleta.

A pesquisa do Datafolha decidiu adotar uma definição genérica, que chamou de Compras, para fugir da armadilha. Por que Compras, se tudo que se consome é comprado?

No grande guarda-chuva das compras há até a categoria atacado. Mas não há varejo. Há inclusive a marca mais lembrada de site de compras. Por que há destaque para o atacado e não há para o varejo?

A Folha escapou de ter de estampar manchetes sobre a área do varejo com nomes de grandes grupos envolvidos em todo tipo problema de gestão e também de falcatruas.

Não só as redes quebradas por incompetência ou pelos juros de Roberto Campos Neto, mas as protagonistas de manchetes recentes sobre fraudes bilionárias que são muito mais do que contábeis. E muitos outros rolos.

Se consultasse os brasileiros sobre o varejo em geral, a Folha teria de destacar, como vem destacando em outras áreas da pesquisa, os nomes de redes populares que já tiveram controladores investigados por manipulação de balanços, ou sonegação combinada com lavagem de dinheiro e contrabando.

Mas esse é o capitalismo brasileiro. O maior jornal do país decide saber quais são as marcas mais lembradas e esconde aquilo que mais está presente na memória das pessoas, as lojas que elas frequentam.

A Folha foi esperta ao tentar esconder numa categoria genérica de Compras um vasto grupo de marcas desqualificadas por quebradeiras, desmandos e crimes graves. Marcas famosas quase sumiram da pesquisa.

Para encerrar: por que o Folha Top of Mind tem até a categoria faca para churrasco e não tem livrarias? Pelo mesmo motivo que levou o jornal e o seu Datafolha a esconderem o varejo?

A Folha poderia criar, sob o ponto de vista do seu jornalismo seletivo, uma pesquisa com as marcas com prazo de validade vencido, que não devem ser lembradas.

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