O FIM DO DUELO ENTRE GRETA E SCRUTON

Morreu Roger Scruton, o pensador de uma certa direita pretensamente chique, que se sente no direito de refletir sobre o mundo deixando tudo como está, em nome do que ainda possa ser chamado genericamente de conservadorismo.

Scruton dava a entender que tinha grandes sacadas para os dilemas da humanidade, mas tangenciava abordagens, sempre a partir das posições do reacionarismo glamourizado. Não mexa em nada, nem no que nunca deu certo ou no que sempre estará errado.

Era aparentemente romântica, mas diversionista, antiga, superada, sua posição sobre o maior drama da humanidade: a solução para as questões ambientais está antes na casa de cada um, na vizinhança, nas comunidades, nas famílias, e não na abordagem política das macroquestões, como o aquecimento global.

Foi assim que o britânico deu munição para que o machismo mundial atacasse a menina Greta Thunberg, porque os radicais – segundo ele – gritavam muito e sugeriam poucas saídas. Pois a saída dos radicais sempre foi, antes de mais nada, denunciar os crimes dos destruidores do ambiente.

Essa pregação redundante é dele e foi dita na última passagem pelo Brasil: “Todos nós temos uma responsabilidade com o nosso meio ambiente. Um dos problemas é que os ativistas ambientais definiram essa responsabilidade como algo tão grande, tão vasto e tão abrangente, que ninguém sabe como enfrentar essa responsabilidade”.

Não é verdade. A humanidade superou há muito tempo, pelo menos no mundo considerado desenvolvido, o debate sobre o varejo do ambientalismo de classe média, como a separação do lixo, o replantio de áreas devastadas, do manejo do solo, das trocas de experiências nos bairros e nas escolas e outras iniciativas consideradas pedagógicas.

O que o mundo não conseguiu resolver, e não conseguiria nunca, se dependesse de gente como o filósofo do conservadorismo, são as responsabilidades dos grandes impasses determinados pelo interesse econômico, pelo imobilismo e pelo boicote político de grupos empresariais e países.

Não adianta, como ele pretendia, ficar propondo soluções ditas cotidianas para o ambiente, se Bolsonaro continua estimulando a destruição da Amazônia e Trump e as grandes corporações poluidoras mundiais mantêm o conluio pelo lucro a qualquer custo.

“Acredito – disse Scruton – que o movimento ambientalista errou ao começar a partir desses problemas imensos que não sabemos como resolver. Deveríamos começar pelos pequenos problemas que nos permitem cooperar com nossos vizinhos.”

Os vizinhos sabem há muito tempo o que fazer e não fazem mais porque as grandes políticas não ajudam. Scruton não sabia o que é o drama ambiental e social da miséria sem água e esgoto.

O guru da direita (imaginem que até Bolsonaro emitiu uma nota de pesar) morre sabendo que os ambientalistas acertaram e que suas ações ofendem apenas os destruidores do mundo.

O antiesquerdista, anticomunista e anticomunidade europeia Scruton morre junto com muitas das suas ideias individualistas, enquanto Greta está cada vez mais viva e mais radical.

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