Paulo Francis, o véio

Cena de um Fórum da Liberdade, aí por 1996, no Salão São José do Plaza São Rafael. Paulo Francis entra no palco, faceiro, e começa sua palestra com uma frase sempre repetida e atribuída a Harry Truman: quem não aguenta o calor, que saia da cozinha.

Acho que se referia à globalização inexorável que iria salvar o mundo e que agora Trump quer rever a seu modo.

Me lembro bem que eu estava sentado ali pelo meio da plateia (como jornalista), ao lado de um jovem de gravata (99% dos participantes do Fórum da Liberdade usam gravata), que perguntou a outro jovem do outro lado: o que este véio está fazendo aqui?

Não ouvi o que o outro respondeu. O outro poderia ter dito: Paulo Francis é um véio dos nossos.

Notei, meio surpreso, que aquele jornalista de nome, propagandista do neoliberalismo, não era percebido por todos como um convidado natural da festa das liberdades.

Penso então como os neoliberais, cada vez mais neo e menos liberais, veem hoje outros jornalistas adesistas, sem a grife de Francis, que se atiram no colo de suas ideias ‘libertárias’.

O que eles pensam que esses jornalistas tão alegres, muitos golpistas, estão fazendo na cozinha do empresariado que vive de isenções fiscais e se queixa do tamanho do Estado? Será que um jornalista desse tipo se acha parte orgânica do ultraconservadorismo disfarçado no Brasil de liberalismo? E será que os liberais os aceitam como coadjuvantes do discurso deles ou apenas como figurantes prestando serviços eventuais?

Penso nos jornalistas adesistas serviçais de hoje, me lembro daquele Fórum e penso até hoje que gostaria de ter dito a Paulo Francis, não que estavam em dúvida sobre a importância da participação dele no evento, mas que o chamaram de véio.

 

 

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