A FILHA DE PELÉ

Pelé tem uma filha gaúcha. Foi o que ouvi por telefone de Marta Gleich, editora-chefe de Zero Hora, numa manhã de abril, há duas décadas.

– Vamos contar essa história?

Marta já sabia da existência da filha do Rei, mas não revelara nada por respeito à enfermeira Lenita Kurtz, mãe da fisioterapeuta Flávia Cristina, na época com 32 anos.

Era um segredo, e guardar segredo sempre foi um dos maiores dilemas dos jornalistas.

Mas a existência da filha vazara para a imprensa de São Paulo, como fofoca de um ex-amigo e ex-sócio de Pelé.

Eu era editor especial de ZH e me atrevia a frequentar todas as áreas do jornal. Havia pressa em ter a primazia de uma conversa com o próprio Pelé, porque os jornais estavam atrás da história.

No dia 11 de abril de 2002, Marta e eu fomos à casa de Elizabeth Machado Kael, amiga de Lenita, na zona sul de Porto Alegre.

O encontro acontecia ali porque Elizabeth foi quem decidiu escrever uma carta a Pelé, quando Flávia já era adulta.

A amiga relembrou que Pelé e Lenita se conheceram em abril de 1969 em Porto Alegre após um jogo da Seleção com o Peru.

Que o encontro havia sido na casa do lateral Everaldo e que Pelé deveria lembrar do que havia acontecido depois.

Ele entrou em contato com Elizabeth e admitiu que lembrava. Logo pai e filha se conheceram, fizeram exame de DNA e Pelé passou a pagar os estudos da moça. Sempre se deram bem, mas pouco se viam.

Naquele 11 de abril, na casa da amiga Elizabeth, Lenita iria ligar para Pelé, que decidira contar a história para Zero Hora.

Por ter a confiança das duas, Marta conversou com Pelé. Não tenho certeza (e não tenho cópia da reportagem, que inexiste na internet), mas ele estaria nos Estados Unidos.

Depois, entrevistamos Elizabeth, Lenita e Flávia, e a história foi contada em duas páginas de Zero hora. A filha gaúcha de Pelé virou
assunto nacional. Mas Flávia havia nascido em São Paulo.

Hoje com 52 anos, ela é a que está em primeiro plano, ao centro, nessa foto no Hospital Albert Einstein, onde aparece uma das netas.

Pelé teve sete filhos. Kely, Edinho, Jennifer, Sandra Regina, já falecida, Flávia Cristina, Joshua e Celeste.

Eu pretendia escrever há mais tempo sobre essa e outras fotos dos filhos, porque passam uma dignidade comovente.

O pai está morrendo, e a decisão deles é a de transmitir serenidade. Todos sorriem, porque a situação de Pelé já era irreversível e havia sido assimilada.

Pelé não foi exposto em fotos pela família (Flávia divulgava imagens difusas e das mãos dos dois), porque já não era mais Pelé.

Sabemos que falta na foto Sandra Regina, com quem Pelé nunca se entendeu, e esse conflito já foi contado à exaustão antes e depois da morte da filha.

A história hoje é a de Flávia, a mais parecida com Pelé, o maior, o mais mágico, o gênio que todos tentaram imitar.

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