A Folha e as fotos das crianças degoladas: e se for mentira?

A Folha de S. Paulo decidiu correr o risco que nenhum outro jornal da grande imprensa correu até agora: publicou na capa da versão online uma foto que, segundo o governo de Israel, seria de crianças degoladas pelo Hamas.

É uma decisão de alto risco. As fotos são do governo israelense. O jornal diz ter recebido três fotos. O crédito da foto publicada informa: Ministério das Relações Exteriores de Israel.

O jornalista Igor Gielow escreveu junto à foto: “O governo israelense não detalhou, contudo, quantas crianças foram encontradas brutalizadas, nem especificou se as fotos são do kibutz de Kfar Aza, junto a Gaza”.

Por que as fotos foram distribuídas só três dias depois da disseminação da notícia e sem detalhes que poderiam levar ou não à comprovação da sua veracidade?

Em outros tempos, se a notícia e as fotos fossem falsas, a decisão poderia condenar o jornal a um desastre e até à extinção.

Em tempos de inteligência artificial e de todos os tipos de pós-verdade, pode não dar em nada. Pode ser verdade como pode ser mentira. E só. E a vida segue.

O jornalismo deve perseguir a verdade e tentar localizar parentes, vizinhos ou conhecidos das famílias das crianças.

Se não conseguir e confiar na versão do governo de Israel, todos terão fracassado.

Qualquer jornalista sabe que governos são os piores informantes em tempos de guerra.

(O Globo e o Estadão noticiaram que as fotos existem, mas decidiram não publicá-las. Eu não preciso explicar por que não compartilho as imagens.)

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