A obra dos vivos e dos mortos

Meu amigo Carlos André Moreira escreveu sobre Carlos Heitor Cony para dar uma cutucada nos que lembraram do reacionarismo do autor no fim da vida. Andrezito escreveu aqui no Face:

“E daí vivemos tempos tão estranhos que coisas como essas, as páginas dos livros, são secundárias e o autor é presa para algumas declarações oportunistas sobre suas posições políticas no fim da vida. Acho que eu consigo ver muito bem separadas as duas coisas”.

Eu fui um dos que fizeram declarações oportunistas sobre Cony, ao reconhecer a grandeza da sua obra e a miudeza dos seus últimos anos como cronista conservador. E mandei então esse comentário para o André, porque estou sem advogado no momento:

“Andrezito, quem sou eu pra dizer pra ti que a grandeza de um autor está também na sua exposição ao confronto entre o que fez e o que foi ou o que pensava?

Não vejo nenhum problema. Se não fosse assim, não teríamos nem literatura, nem memórias, nem cinema, nem Van Gogh, nem Borges, nem Cony.

Eles existIram (como todos nós mortais) para serem confrontados com o que, sob nosso ponto de vista, seriam incongruências, misérias e fragilidades. Ou seriam apenas figuras puras para alguma adoração.

O Cony fantástico de Quase Memória é o mesmo Cony que, no fim de vida, decidiu atacar as esquerdas como pauta intermitente. Só isso. Foi o que se disse. Não há nada de errado em se informar a respeito.

Ah, mas a obra é maior do que ele. Esse papo, não. E tu é bom demais pra vir com essa conversa de falar só de bem dos mortos”.

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