A pergunta que não foi feita a Braga Netto

O Globo conseguiu o que muitos jornalistas perseguem desde a semana passada: falou com o general Braga Netto sobre a informação de ele que teria participado da já famosa reunião de 24 de novembro, quando Bolsonaro chamou os chefes militares para armar o golpe.

Detalhes da reunião foram contados pelo coronel Mauro Cid na delação à Polícia Federal. Pois Bela Megale, colunista do Globo, ouviu Braga Netto, que negou participação com o seguinte argumento:

– Não estava (presente). Evitava comparecer a essas reuniões para não causar constrangimentos. Eu já estava na reserva.

Entenderam? Como era da reserva, ficou de fora da reunião que, segundo Cid, teria tido também a presença de civis.

Mas Braga Netto, que foi chefe da Casa Civil, foi ministro da Defesa e foi vice na chapa de Bolsonaro, ficou de fora. Para não causar constrangimentos.

Interessante que o general salta fora da trama golpista e dá a entender que o assunto era coisa apenas de chefes militares.

Outro detalhe da conversa do Globo com o general é uma falha de abordagem da colunista, que deve ser estudada em escolas de jornalismo.

A jornalista acrescenta, no fim do texto sobre a entrevista (que não fica clara se foi por telefone, email ou se o general mandou uma nota), que Braga Netto nunca esclareceu uma fala de 18 de novembro do ano passado, ao sair do Alvorada.

Cercado por militantes de extrema direita, que se dizem cansados, por estarem acampados havia muito tempo e por esperarem algum sinal dos militares, Braga Netto diz:

– Vocês, não percam a fé. É só o que eu posso falar agora.

A jornalista do Globo informa que “a frase foi gravada e compartilhada pela base do ex-presidente que fazia apelos golpistas para impedir a posse de Lula”.

É um vídeo, que todo mundo viu. E são duas as frases falsamente enigmáticas.

A outra é esta:

– Tem que dar um tempo.

Braga Netto disse agora à jornalista que “suas idas frequentes ao Palácio da Alvorada se deram devido à infecção na perna que o ex-presidente teve”.

A colunista conversou com o general que talvez seja o mais importante para o desvendamento do golpe e não perguntou: de que fé o senhor falava para os golpistas acampados? Fé no quê?

De que fé tratava ali um militar, depois da eleição, quando tudo já estava consumado, ou deveria estar e a um mês e meio da posse de Lula?

A jornalista não perguntou, ou pode ter sido pior: perguntou, o general não quis responder e ela omitiu a informação de que o vice na chapa derrotada de Bolsonaro não comenta mais nada que envolva fé.

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