A repentina agilidade de Gabeira
Uma história domingueira. Um dos momentos mais tensos de uma redação é o que o antecede o que chamam de fechamento, o acabamento de uma edição.
Nesse momento, aí pelas 19h, acontecia a reunião de capa, nos anos 90 (depois, passou a ser mais cedo), numa sala de Zero Hora.
Os editores de cada área, política, economia, geral, fotografia, esporte, central do interior, segundo caderno e internacional, vendiam seus peixes para o editor de capa.
Os grandes peixes iriam para a capa do jornal. A notícia-peixão viraria manchete. Ali também eram escolhidas as fotos mais impactantes do dia.
Às vezes, constatavam que era tudo lambari, se o dia fosse fraco. Era uma reunião de disputa de beleza e de constrangimentos.
Aí por 1992, Fernando Gabeira participava da reunião, como assessor especial e intermitente do diretor, Augusto Nunes.
Gabeira era uma pessoa calma, às vezes sonolenta, mas numa daquelas reuniões ele, tão devagar, se irritou com o ritmo da apresentação das chamadas pelos editores.
O editor de capa era Eliziário Goulart Rocha, um cara com talento de sobra para a tarefa, ágil e sempre esperto.
Pois o lento Gabeira decidiu enfrentar o elétrico Eliziário.
“Isso aqui está muito devagar, tem que ser pá, pá e pá e pronto, sem enrolação”, disse Gabeira, com a pretensa autoridade de quem havia sido editor do Jornal do Brasil e vinha do Rio para ensinar jornalismo, métodos e processos aos caboclos da Zero.
Como todo mundo conhecia Eliziário, os 10 editores na sala se olharam e esperaram a resposta.
Gabeira ouviu o seguinte, dito com voz assertiva quase no seu ouvido:
“Essa reunião sempre foi assim e continuará nesse ritmo com quem achar que assim deve ser”.
Gabeira, que era temido como infiltrado na redação, retirou-se da sala, daquele jeito dele, a 10 por hora, e nunca mais apareceu.
Na hora da reunião de capa, passou a ser visto no bar tomando cafezinho com Zé Onofre.