A RESSACA DOS ATOS DE 2 DE OUTUBRO

Seguem abaixo algumas observações ligeiras sobre a quinta grande manifestação contra Bolsonaro, no sábado último.

O objetivo é o de contribuir para um debate que já nasceu meio torto. Não há como impedir que se amplifiquem as controvérsias.

Parte da esquerda, sempre torcedora, não admite que os atos ficaram muito aquém do esperado. Outra parte não admite que a convocação de forças do centro, como aliadas na briga pelo impeachment, não funcionou.

E outra parcela ficou irritada com a grande imprensa, porque essa teria informado que os atos tiveram adesão mínima.

Eis algumas notas como contribuição:

1. O chamamento para os atos de 2 de outubro foi frouxo. E as manifestações tiveram mesmo adesão inferior à esperada.

É consenso que faltou vigor e inventividade à maioria das manifestações no país todo. Em Porto Alegre, faltou quase tudo que as outras caminhadas tiveram. Teve até falta de jovens (não vamos raciocinar a partir das exceções).

2. Pode não parecer relevante, mas é razoável que seja levantada uma questão só aparentemente incômoda: por que Lula não vai aos atos?

As respostas são as mais variadas, e a principal delas é uma pergunta: o que Lula ganharia com isso?

Mas ninguém pode impedir que a imprensa trate do assunto como questão a ser debatida.

A direita e a extrema direita vão provocar sempre: se Bolsonaro aparece, por que Lula não sobe no trio elétrico? É uma questão a ser considerada.

3. Há setores importantes da esquerda que não apostam no impeachment de Bolsonaro como solução.

Dizem que pode acontecer o contrário. O tumulto provocado poderia ser pior do que ter de esperar até a eleição do ano que vem.

Então, não é de estranhar que o esforço pelas manifestações não seja o esperado por boa parte das esquerdas.

Prevalece a tese segundo a qual Bolsonaro deve sobreviver para ser massacrado por Lula em 2022.

4. Se os atos não foram assim tão ruins, é estranho que até não agora não tenha sido anunciada a provável data da próxima manifestação nacional.

É uma mudança em relação ao que aconteceu depois dos quatro atos anteriores, quando logo se ficou sabendo de tratativas para definir a próxima manifestação.

Ninguém se arrisca a propor em voz alta quando será possível voltar às ruas sem o risco de ver de novo pouca gente pedindo fora Bolsonaro.

5. É possível que os atos tenham perdido a força por vários motivos.

As esquerdas não acreditam mais na capacidade de mobilizar a classe média (muito menos o povo).

A maioria não sabe o que ganharia derrubando Bolsonaro agora.
A triste lembrança das passeatas que ajudaram a apressar o golpe de 2016 ainda constrange quem poderia voltar às ruas.

6. Contingente expressivo das esquerdas continua refratário a qualquer questionamento que passe pelos seus erros e pelas suas fraquezas.

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