A UNIVERSIDADE, O SHOPPING, AS SEITAS E AS MÁFIAS

Para os assustados e constrangidos com a instalação do campus de uma universidade dentro de um shopping em Porto Alegre, vou reproduzir aqui trechos da entrevista que o filósofo francês Régis Debray (aquele mesmo amigo de Fidel e Che Guevara) concedeu a Éric Fottorino e que está no livro Quem é o Estado Islâmico (Editora Autêntica).

Comprei o livro por recomendação do Gustavo Ventura Gomes, da Bamboletras. São textos e entrevistas de vários pensadores franceses, mas pena que seja pequeno demais, só com 128 páginas.

Debray fala da crise das esquerdas e das identidades da França pós-massacre no jornal Charlie Hedbo, em janeiro de 2015. Mas parece falar para todos nós, inclusive para o contexto brasileiro em que perdemos a ideia de pertencimento a alguma coisa na política e sucumbimos às nossas fraquezas e covardias nas mais variadas áreas.

Este são os trechos:

“O pertencimento tem horror ao vazio. Pagamos ao mesmo tempo por fraquezas e covardias. Covardias porque, a partir de determinado momento, não ousamos mais permanecer republicanos e falar também de igualdade e de fraternidade, e não só de liberdade. Estava fora de moda, era antiquado. Era preciso ser democrata, multicultural, californiano, simpático. Pagamos pelo medo de ser diferentes dos outros. De assumir certa herança ao mesmo tempo jurídica, literária, política. Uma república não funciona na base do par igreja-drogaria, e sim na base do par prefeitura-escola. Tivemos vergonha disso. (…) A crise da escola como instituição é uma questão que sempre volta à tona e nunca se resolve, mas assistimos à transformação de um lugar de instrução num lugar de animação. Em dado momento, o político capitulou. Quando o interesse geral vai embora, chega o trader (o especulador financeiro) seguido pelo guru. Quando o Estado desmorona, restam dois ganhadores: as seitas e as máfias”.
(Claro que o bom seria ler os trechos em seus contextos em que ele adverte para que a França não seja nunca seduzida pelas táticas americanas de combate a terroristas e ‘estrangeiros’. E a defesa dos valores da França, com os exageros franceses de sempre, não insinua nunca supremacias ou isolacionismos.)

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Website Protected by Spam Master


1 + 4 =