AS NOTAS OFICIAIS SOBRE A ESCRAVIDÃO EM BENTO

Já temos duas notas oficiais com tons bem diferentes sobre o que aconteceu em Bento Gonçalves com os trabalhadores nordestinos.

A primeira nota que compartilho abaixo é a do Centro da Indústria, Comércio e Serviços da cidade (CIC). É um desastre.

A segunda é a da prefeitura e de várias entidades. Leiam e comparem.

Esta é a nota do CIC:

“Na condição de entidade fomentadora e defensora do desenvolvimento sustentável, ético e responsável dos negócios e empreendimentos econômicos, o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves vem acompanhando com atenção o andamento das investigações acerca de denúncias de práticas análogas à escravidão no município. É necessário que as autoridades competentes cumpram seu papel fiscalizador e punitivo para com os responsáveis por tais práticas inaceitáveis.
Da mesma forma, é fundamental resguardar a idoneidade do setor vinícola, importantíssima força econômica de toda microrregião. É de entendimento comum que as vinícolas envolvidas no caso desconheciam as práticas da empresa prestadora do serviço sob investigação e jamais seriam coniventes com tal situação. São, todas elas, sabidamente, empresas com fundamental participação na comunidade e reconhecidas pela preocupação com o bem-estar de seus colaboradores/cooperativados por oferecerem muito boas condições de trabalho, inclusive igualmente estendidas a seus funcionários terceirizados. A elas, o CIC-BG reforça seu apoio e coloca-se à disposição para contribuir com a busca por soluções de melhoria na contratação do trabalho temporário e terceirizado.
Situações como esta, infelizmente, estão também relacionadas a um problema que há muito tempo vem sendo enfatizado e trabalhado pelo CIC-BG e Poder Público local: a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema. Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade.
É tempo de trabalhar em projetos e iniciativas que permitam suprir de forma adequada a carência de mão de obra, oferecendo às empresas de toda microrregião condições de pleno desenvolvimento dentro de seus já conceituados modelos de trabalho ético, responsável e sustentável”.

E esta é a nota da prefeitura e de várias entidades:

“A Serra Gaúcha tem uma história de trabalho e acolhimento. Essa terra recebeu nossos antepassados que — com esforço e boa-fé — fortificaram uma sociedade justa, fraterna e humana. Uma comunidade empreendedora, que construiu oportunidades e leva para todo o mundo essa identidade cultural.
Em respeito a essa trajetória, jamais silenciaríamos nem deixaríamos de adotar medidas concretas para enfrentar o fato ocorrido em nossa região, ainda que seja um episódio pontual, e que a responsabilidade direta seja de uma empresa de serviços, que atende diversos segmentos. Mais do que isso: nos movem a agir para que não se repitam episódios que causam tanta indignação e tristeza em todos nós.
Com esse objetivo, em encontro liderado pela Prefeitura Municipal de Bento Gonçalves na segunda-feira (27), o poder público e entidades representativas do setor CONSEVITIS, UVIBRA, FECOVINHO, AGAVI, SINDIVINHOS, ASBRASUCO, COMISSÃO INTERESTADUAL DA UVA, Centro da Indústria Comércio e Serviços (CIC BG), Conselho Municipal do Turismo (Comtur), Bento Convention & Visitors Bureau, Segh Uva e Vinho, Aprovale e Associações e rotas: Rio das Antas, Encantos da Eulália, Cantinas Históricas, Associação dos Guias de Turismo, Caminhos de Pedra, manifestam que:
1 – O fato ocorrido merece total repúdio de todos que prezam pela dignidade humana. A ocorrência não representa as práticas do setor, as vinícolas, as mais de 20 mil famílias de produtores, o segmento produtivo da cidade e, tampouco, a história da nossa comunidade.
2 -Todos os envolvidos têm o dever de tratar o tema com máxima seriedade e encaminhar soluções concretas. E assim já estamos fazendo.
3 – As primeiras medidas adotadas foram de acolhimento aos trabalhadores — abrigando e cuidando de sua saúde —, até que pudessem retornar para casa em segurança e com dignidade. Mas aqui seguimos com foco total na implantação de medidas rigorosas de enfrentamento ao problema.
4 – Imediatamente foi iniciada uma força-tarefa de fiscalização em alojamentos, visando verificar as condições oferecidas aos trabalhadores. Essa iniciativa será consolidada em um programa permanente.
5 – Também foi definida a intensificação da fiscalização de fornecedores e prestadores de serviços do setor, buscando o cumprimento dos requisitos legais e trabalhistas — tais como uso de EPIs, fornecimento de alimentação e carga horária de trabalho.
6 – Será iniciado, nas próximas semanas, o programa de comunicação, conscientização e qualificação para toda cadeia vitivinícola, incluindo produtores rurais e safristas — garantindo o acolhimento correto e o zelo à legislação.
7 – Será criada a Central do Trabalhador. A unidade atenderá diretamente os operários, recebendo denúncias e orientando os profissionais.
8 – Todo o segmento promoverá os aprimoramentos internos de fiscalização e ouvidoria, assegurando que as ações de terceirizados também sejam acompanhadas com rigor.
9 – Tanto o poder público como o setor privado seguirão atuando em conjunto com as forças responsáveis pela investigação e pelo acompanhamento dos direitos humanos e trabalhistas — o que certamente acarretará em novas ações, que serão oportunamente divulgadas.
O manifesto tem o propósito de garantir que o trabalho não se encerre com as ações aqui apresentadas. Precisamos, todos, seguir vigilantes e ainda mais ativos no enfrentamento de um problema que, infelizmente, ainda é realidade Brasil afora. Evoluir é uma necessidade e um compromisso que assumimos publicamente, respeitando valores e princípios tão caros a uma comunidade que não pode ser estigmatizada por episódios que não representam sua essência.
Com união e transparência, vamos superar este momento e honrar o que sempre fomos: uma terra de oportunidades que acolhe a todos”.

6 thoughts on “AS NOTAS OFICIAIS SOBRE A ESCRAVIDÃO EM BENTO

  1. A Cic-BG chega ao cúmulo de culpar o Bolsa Família pela falta de mão-de-obra na região, como se alguém deixasse de trabalhar por salário mais benefícios, para tentar sobreviver com R$ 600 por mês. É um pensamento escravagista mesmo! Não é só racismo estrutural que temos no Brasil: temos escravagismo, xenofobia, misoginia, classismo, todos estruturais! Mais ainda nos Estados do sul, apesar de ser um problema nacional!

  2. Para melhorar o vereador caxiense fachinel, ataca o povo
    Baiano, dizendo que eles sao
    Vagabundos,e batedores de
    Tambor. Contratara argentinos
    Para as proximas colheitas,
    Basta so falar com ele.
    Eu desisto, e muita burrice
    Junta.
    Tenho que me cuidar para
    Nao pastar junto com essa
    Turma.kkkkkkkkk.

  3. Outras vinícolas devem estar em polvorosa no Brasil todo, assim como nos latifúndios de cana de açúcar que adotam a mesma sistemática de contratação, ops, escravização.

  4. É UM RETRATO DO BRASIL. PELO MENOS A NOTA DA PREFEITURA CITOU TODAS AS ENTIDADES E COLOCOU TODOS OS PRODUTORES DE UVA E VINHO, O QUE NÃO CONDIZ COM A FRASE “AINDA QUE SEJA UM EPISÓDIO PONTUAL”. SE FOSSE PONTUAL, NÃO COLOCARIAM TODO MUNDO NA NOTA. A OUTRA DECLARAÇÃO É UMA ODE A IMBECILIDADE, NÃO MERECE NEM SER COMENTADA. O VEREADOR CAXIENSE PERDEU UMA ÓTIMA OPORTUNIDADE DE ESCONDER SEU NAZISMO E FASCISMO, SÓ NÃO FICOU CLARO SE O ATAQUE FOI MOVIDO POR SEREM NORDESTINOS, BAIANOS OU NEGROS, POIS OS BONS ARGENTINOS SERIAM O OPOSTO DISTO, SULISTAS, “GAUCHOS” E EUROPEUS.
    DE BOA FOI A AÇÃO DA APEX, SIMPLES E EFICAZ COMO DEVE SER, JÁ AS VINÍCOLAS CITADAS SE MANIFESTARAM DE MANEIRA ADEQUADA, ACATANDO A ORDEM DA APEX (NÃO SERIAM LOUCOS DE QUESTIONAR NUM MOMENTO ONDE ELAS ESTÃO NA BOCA DO POVO – A MESMA QUE TOMA VINHO – DE MODO MAIS FEIO QUE UM PALAVRÃO TENEBROSO).
    O QUE FICAR DEPOIS DISTO É QUE VAI VALER, VÃO APURAR OS FATOS? VÃO PUNIR OS RESPONSÁVEIS E ISENTAR AS EMPRESAS PARA NÃO PERDER EMPREGO E RENDA?, ALGUMA COISA VAI MUDAR? AS VINÍCOLAS VÃO REALMENTE SEGUIR OS CÓDIGOS DE CONDUTA QUE DIZEM SEGUIR? SÓ O FUTURO VAI NOS DIZER.
    ATÉ LÁ É ESPERAR AS PROMOÇÕES DE VINHOS E ESPUMANTES DESTAS MARCAS PARA O PREJUÍZO NÃO SER MUITO GRANDE.

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