Eric Nepomuceno e a novela póstuma de García Márquez
O grande debate literário do início do outono é se vale a pena ler ‘Em agosto nos vemos’, o livro que Gabriel García Márquez refugou, determinou que fosse queimado e os filhos decidiram publicar.
Pois leiam o que diz Eric Nepomuceno sobre ‘Em agosto nos vemos’, o livro póstumo de Gabriel García Márquez. Falei com ele hoje pela manhã ao telefone. Eric traduziu grande parte das obras mais importantes de Gabo no Brasil.
Eric assegura: “Já a partir da metade da segunda página se percebe que é um García Márquez em estado puro”.
O tradutor admite que há problemas de revisão no original, que fazem parte de qualquer obra, principalmente das que não tiveram a dedicação do autor antes de morrer.
Mas que a novela é um legítimo García Márquez, mesmo que tenha sido refugada por ele. Gabo morreu em 2014.
Eric me disse que não lê antes um livro que depois vá traduzir. Vai lendo e fazendo a tradução ao mesmo tempo. E sentiu desde o começo de ‘Em agosto nos vemos’ que estava diante de quem ele conhece muito bem.
É uma das poucas pessoas que têm intimidade com todos os personagens de ‘Cem anos de solidão’ e todos os seus parentes, inclusive os não revelados no livro.
Ele me disse: “Kafka, Heminguay e Fitzgerald também disseram que deveriam destruir seus livros. Se tivessem destruído os últimos contos de Heminguay, não teríamos essa maravilha que é o seu conto sobre Paris (‘Um quarto que dá para o lado do jardim’, de 1956, que se passa na Paris ocupada pelos nazistas)”.
Liguei para o Eric, colega colunista no Brasil 247 (licenciado para assumir o cargo de diretor da EBC no Rio), porque o amigo Mario Marcos de Souza disse que, se o livro for um García Márquez legítimo, ele irá ler até o fim, ou parar na metade.
E porque outro amigo também jornalista, o Marco Estivalet, leu a novela e se negou a fazer comentários na confraria que frequentamos, deixando um suspense solto no ar do Mercado Público.
Depois da conversa com Eric, decidi que lerei ‘Em agosto nos vemos’.