O atropelador
Ricardo José Neis, o homem que atropelou deliberadamente um grupo de 17 ciclistas em 2011 e agora está sendo julgado em Porto Alegre, disse hoje aos jornalistas:
– Fui ciclista, andava de bicicleta todo domingo em Brasília, ia de uma ponta a outra do eixo monumental. Quando vim para Porto Alegre, parei de usar porque realmente é muito perigoso.
É o depoimento de um cínico que avançou com o carro sabendo que poderia matar.
Quem usa a bicicleta por lazer e, principalmente, quem pedala para poder trabalhar sabe bem quanto é perigoso. Com ou sem um sujeito como este nas ruas.
Por acaso, agora à tarde andei de bicicleta pela Avenida Eduardo Prado, na zona sul. Logo depois da rótula da Juca Batista, um motorista incomodado com a minha presença perto do meio-fio passou buzinando e tirando um fininho. Eu reagi e ergui o braço, ele ergueu o dele pela janela e deu um berro.
Ricardo Neis é um caso exemplar deste tipo de ‘cidadão’ (não é de motorista, é de cidadão mesmo) que dirige em Porto Alegre e que nunca se sente pedestre ou ciclista ou motociclista.
Não é o motorista estressado submetido aos riscos do trânsito que podem levar a acidentes. É o predador das ruas, o competitivo, o egoísta, porque o comando do carro apenas exacerba seus defeitos de caráter.
Porto Alegre é a cidade das grosserias. Já fiz reportagens sobre ciclistas e já assisti a brigas de trânsito em que homens agressivos, como este que está sendo julgado, se consideram donos da cidade. Geralmente, são da classe média incomodada.
São os que não querem dividir espaços com ciclistas, com cotistas, com bolsistas do ProUni, com os pobres que vinham andando de avião e até com beneficiários do Bolsa Família.
Espero que o atropelador em julgamento seja condenado, mas não a pagar cestas básicas e a fingir que presta serviços comunitários, como ocorre com a maioria dos que matam e mutilam ciclistas, como ocorreu com o que atropelou pelas costas e matou o professor Antônio Carlos Strinnghini Guimarães, o Guima, em 2005.
Espero que o atropelador em julgamento pegue cadeia.
