O GRE-NAL DA INSENSATEZ

Não é hora para jogar futebol. Há um esforço de todos os setores para retomar atividades, custe o que custar. É a pandemia denunciando posturas até então camufladas ou reprimidas.

O futebol é uma área com particularidades, porque está explicitamente dedicada a agradar Bolsonaro. Dirigentes e técnicos adoram Bolsonaro. É a regra, com gloriosas exceções.

O Flamengo, todo mundo sabe, é um dos líderes da tentativa de Bolsonaro de mostrar, a partir da retomada dos jogos, que a vida terá logo o novo normal.

O Gre-Nal marcado para o dia 23 de julho se encaixa nessa estratégia. Os dirigentes podem dizer que não, os jogadores podem argumentar o que quiserem. Mas eles farão o que Bolsonaro quer que façam.

Já ouvimos os defensores do trabalho dizendo que o futebol emprega muita gente. Ninguém questiona. O comércio emprega muita gente. Os restaurantes, os salões de beleza, as academias, as lojas, todas as áreas hoje paradas também empregam.

Podem dizer até, contrariando a realidade, que há condições técnicas para a realização dos jogos. E que os portões estarão fechados. A realidade desafia a decisão tomada.

Não interessam os pretextos pretensamente científicos, nem o argumento de que querer voltar é um desejo legítimo. É, se não for movido pelo impulso corporativo que despreza o interesse coletivo.

O debate de iniciativas erráticas, como é esse Gre-Nal, deve se dar em torno da mensagem torta que um jogo de futebol passa num momento assustador.

É criminosa a tentativa de induzir as pessoas a pensar que a volta do futebol significa o início da nova normalidade. Não é.

O Rio Grande do Sul estará afundando na anormalidade bem no momento em que o jogo acontecerá. Marcelo Gonzatto mostra hoje em Zero Hora online que o cenário que vem aí é preocupante.

Gonzatto escreve:

“O rompimento da barreira de mil mortes por covid-19 no Rio Grande do Sul deve ser sucedido por outras notícias desagradáveis. As projeções mais atualizadas do Instituto de Métricas e Avalia ção da Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos EUA, indicam que o Estado poderá chegar a 1º de setembro com cerca de 6 mil óbitos por coronavírus se as tendências mais recentes de agravamento da pandemia se mantiverem”.

O Estado chegou hoje a 1.060 mortes pela Covid-19. O Gre-Nal foi marcado em meio a notícias desfavoráveis e num contexto nunca experimentado desde o começo da pandemia no Estado. É a pior hora para dar o mau exemplo.

O futebol deveria respeitar a marca Gre-Nal. Que respeite então os profissionais de saúde. Pelo menos eles.

2 thoughts on “O GRE-NAL DA INSENSATEZ

  1. Se tirarmos a palavra Exército daquela afirmação e colocarmos em seu lugar outros atores, Será que a opinião do ministro do STF não poderia valer para o caso do grenal e para outros tantos também?

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