O negacionismo é expulso da universidade

Professores, estudantes e servidores de todas as áreas da universidade pública brasileira já têm base de inspiração para tomar decisões contra gestões autoritárias, a partir do que aconteceu na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

A comunidade acadêmica de uma das maiores universidades brasileiras decidiu mandar o reitor embora. Se o Ministério da Educação confirmar o que foi decidido pelo Conselho Universitário da UFRGS na semana passada, o professor Carlos André Bulhões Mendes deve deixar a reitoria um ano antes de completar o mandato.

Outras universidades sequestradas pelos abusos do bolsonarismo terão a mesma determinação, se estiverem enfrentando situação semelhante?

A UFRGS vai se livrar de um gestor acusado de desrespeitar instâncias consultivas e deliberativas, impor ‘reformas’ sumárias nas estruturas de áreas da educação e ser pouco transparente em suas decisões.

A UFRGS está se livrando, como consta no relatório de 90 páginas encaminhado ao MEC, de um gestor que se revelou autoritário e omisso e também foi negacionista em meio à pandemia.

O negacionismo pode parecer um detalhe entre tantos desmandos que o conselho examinou, mas foi o que também deu essência à gestão em julgamento. A UFRGS era comandada por um líder com atitudes que negavam a ciência.

Parece esdrúxulo, mas é isso mesmo. Uma universidade federal vem sendo gerida desde setembro de 2020 por um reitor que afrontou orientações elementares sobre medidas de contenção da pandemia.

O engenheiro civil Carlos André Bulhões Mendes (foto) é acusado de ter determinado a extinção do Comitê de Covid da universidade e permitido que o acesso à UFRGS, no retorno ao trabalho presencial, fosse aberto a quem não se vacinou.

Mendes entendia que, por não ser lei, o passaporte vacinal não deveria ser exigido. Era evidente a intenção de acompanhar as orientações de Bolsonaro.

Mendes e a vice-reitora Patrícia Pranke foram escolhidos pelo negacionista-chefe de Brasília como os últimos, por votação interna, de uma lista tríplice. Tinham o aval do deputado Bibo Nunes (PL) e da minoria da direita acadêmica.

O conselho decidiu agora que eles devem abandonar seus cargos. Foram 60 votos a dois, com três abstenções. A decisão poderia ser, como acontece nessa e em outras áreas, resultado do confronto de entendimentos sobre governança e transparência.

É bem mais do que isso, até porque alguns desmandos foram encaminhados à análise do Ministério Públicos Federal. O Conselho Universitário decidiu que a UFRGS deve interromper os danos do autoritarismo que a extrema direita impôs também à universidade pública por seus prepostos de dentro e de fora do campus.

E aqui digo eu: a comunidade acadêmica finalmente se livrou do bolsonarismo (depois de outras tentativas, ainda no governo fascista), agora por deliberação do conselho como instância superior, para salvar a alma da UFRGS e seu histórico de resistência.

Durante a ditadura, mais de 40 professores foram mandados embora da UFRGS pelos expurgos sumários dos generais. Quantos seriam expurgados se Bolsonaro tivesse sido reeleito, talvez não com os mesmos métodos, mas pelas mais variadas formas de perseguição e aniquilamento?

Que o reitor e a sua vice se defendam em Brasília, até porque a bioquímica e pesquisadora Patrícia Pranke, doutora em genética e biologia molecular, terá a chance de falar das discordâncias de fundo com Mendes.

E como ficam outras universidades e espaços da educação tomados por capatazes de Bolsonaro que exercem o poder absoluto como se gerissem extensões do gabinete do ódio? A UFRGS mostrou o caminho.

O bolsonarismo derrotado na eleição e na tentativa de golpe não pode continuar impondo seus métodos de destruição da educação, muito menos dentro das universidades públicas.

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