O TEMOR DE MATHEUS

Um detalhe passou batido do caso de Matheus Ribeiro, o jovem negro instrutor de surfe apontado como ladrão de bicicleta por um casal de namorados brancos no Leblon.

Vi um dos primeiros vídeos gravados por Matheus para uma entrevista. Ele diz algo que é tão chocante quanto a cena de racismo.

O rapaz contou que não pretendia fazer boletim de ocorrência, porque o caso dele era como o de tantos outros, de racismo estrutural, e que não pretendia transformar o episódio numa questão policial particular com os dois jovens.

Matheus gravou o fim da conversa com os dois e divulgou o vídeo. Era o que poderia bastar para ele.

Mas vejam o argumento de Matheus para fazer o boletim. Se não saísse na frente e não fizesse o registro, o casal poderia ir correndo a uma delegacia, depois de ver aquele vídeo com a denúncia de Matheus, e acusá-lo de injúria e difamação.

A situação poderia se inverter e chegar ao ponto, na dedução de Matheus, em que ele seria o acusado e os dois racistas seriam vítimas e acusadores.

Sabemos de muitos casos de racismo e de fascismo, com injúrias e ameaças, que não são registrados formalmente por falta de provas (Matheus fez o vídeo) ou de testemunha que não se acovarde para contar o que viu.

Matheus deu mais um exemplo de como se defender. O fascista tem que ser denunciado publicamente pelo que é. Porque a situação vivida por ele é mais do que uma tentativa de imposição do poder branco sobre um negro.

É de imposição do poder dos brancos de classe média e ricos sobre os pobres, de preferência sobre os negros. Se o rapaz fosse branco, mas pobre, poderia ter o mesmo tratamento por parte da dupla.

A CHARGE DE EDU OLIVEIRA

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VAI OU NÃO VAI?
Este é o dilema das esquerdas hoje: Lula deve ou não deve ir às manifestações de sábado?

Há riscos. Sua presença pode melindrar grupos que não querem vínculos explícitos dos atos com o PT e com Lula.

A direita já imagina a cena de Lula numa aglomeração cercado de gente (é a imagem que Bolsonaro quer).

Os políticos não foram presença relevante, nem em número, na manifestação de 29 de maio.

E tem a dúvida sobre o que ele ganha e o que pode perder com o que seria visto como antecipação da campanha numa hora dessas, quando o país chega aos 500 mil mortos.

Se for, Lula irá ao ato de São Paulo, na Avenida Paulista. Com certeza atrairia mais gente do que os 6.661 tiozões motoqueiros de Bolsonaro. Mas sempre tem um mas. E hoje é um mas dos grandes.

(Este texto foi publicado ontem no meu perfil no Facebook. Teve, até às 18h desta quinta-feira, 275 comentários (alguns, muito poucos, repetidos pelos mesmos autores). Os que não desejam ver Lula nas manifestações representam 88%. Os outros 12% se dividem entre os que dizem que ele deve ir ou não que têm opinião categórica.)

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