UM ENTERRO QUE CIRO GOMES COMEÇOU DUAS DÉCADAS ATRÁS

Uma cena que assustou até os passarinhos do Cemitério Jardim da Paz, em São Borja, na manhã ensolarada de 24 de agosto de 2002.

Brizola, Ciro Gomes e Antônio Britto estão diante do túmulo de Getúlio Vargas. Brizola discursa, quando um homem chega ao seu lado e berra:

– É o enterro do trabalhismo!

A cena é congelada e só duas pessoas se movimentam. O homem que foge e o deputado Pompeo de Mattos. Pompeo grita “mas o que é isso” e corre atrás do trabalhista entre os túmulos.

Conto porque vi. Eu e outros colegas jornalistas estávamos a poucos metros de Brizola.

Era um sábado, dia do aniversário dos 48 anos da morte de Getúlio. Brizola fazia o que seria seu último movimento eleitoral como líder do trabalhismo.

Ciro era o candidato do PPS à presidência. Britto, ex-ministro, ex-governador e ex-PMDB, recém-entrado no PPS, concorria ao governo do Estado.

Estavam ao redor do túmulo Paulinho da Força, vice de Ciro pelo PTB, o deputado Roberto Jefferson, presidente do partido, e gente que Brizola atraiu para uma composição em que tudo parecia permitido. A foto de Eduardo Knapp, da Folha, mostra o cenário.

Ciro era a estrela. Fazia sua estreia como homem de esquerda, sempre ao lado de Patrícia Pillar.

Jefferson e Paulinho ficavam pelos cantos. Andaram por São Borja, Itaqui e Uruguaiana, a região de Getúlio.

O homem que decretou a morte do trabalhismo não entendia aquele ajuntamento. Poucos se esforçavam para entender.

Anos depois, conversei com o trabalhista que desafiou seu líder e o alertou do que poderia acontecer. Não queria se expor e admitia: agiu por impulso.

Seu grito ficou ecoando no cemitério e quase estragou o evento. Brizola já dava sinais de que estava frágil fisicamente. Morreu dois anos depois.

Daquela turma, Ciro é o único ainda com vínculo orgânico e formal com o trabalhismo, mas só aderiu ao PDT 11 anos depois da morte do líder.

Naquela eleição de 2002, vencida por Lula, Ciro ficou em quarto lugar no primeiro turno. Era sua segunda tentativa, depois de 1998.

Teve 11,7% dos votos (10,9% em 1998), atrás de Lula, Serra e Garotinho. Germano Rigotto (PMDB) derrotou Britto e Tarso Genro no Rio Grande do Sul.

Nem Ciro, nem Britto, nem Paulinho, nem Roberto Jefferson, nenhum deles tinha relação com getulismo ou trabalhismo. Brizola tomava gente emprestada para que trabalhistas e brizolistas seguissem em frente.

Não deu certo. O Datafolha informa agora que 54% dos eleitores de Ciro admitem mudar o voto no primeiro turno e que 70% não sabem seu número na urna.

O eleitor do Ceará, onde a família Gomes impera, vota em Lula. Brizolistas históricos não o reconhecem como herdeiro de Getúlio e Brizola.

Não se sabe direito o que Ciro de fato é. Em 2007, a jornalista Daniela Pinheiro contou na revista Piauí que Ciro escondia até um dragão tatuado no braço direito.

Ciro não sabe se é de Pindamonhangaba, onde nasceu, se é menino tatuado do Rio ou se é o coronel do Nordeste.

No segundo turno de 2018, Ciro poderia ter escapado para Buenos Aires, mas decidiu que seu lugar para fugas é Paris. Ciro é de Sobral e de Paris e tenta ser de São Borja, mas não consegue ser de lugar nenhum.

Duas décadas depois daquela cena em que um anônimo decretou a morte do trabalhismo em meio às alianças com a direita, a utilidade derradeira de Ciro pode ser a do figurante que ameaça transformar a eleição de 2022 numa tragédia.

Ciro Gomes descobriu seu protagonismo como o sujeito que pode ajudar a afundar o país ainda mais na violência e no fascismo.

Com os ataques a Lula e as manobras em direção ao bolsonarismo, Ciro se candidata a ser figura decisiva no enterro da democracia.

4 thoughts on “UM ENTERRO QUE CIRO GOMES COMEÇOU DUAS DÉCADAS ATRÁS

  1. Hoje mesmo, minha irmã e eu comentávamos que Ciro tem agido como um psicótico…
    Ainda que não sejamos psicólogos ou psiquiatras, a definição do termo é a que melhor se encaixa para ele.

  2. ciro age como o político medíocre que espera a derrota de lula para ser contunar se colocando como a opção seguinte, sem nenhum remorso de que para isso a eleição teria queser entregue para bolsonaro. um prejuízo incalculável para o país.

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