Mauro Cid sofre para deixar de ser o ajudante de Bolsonaro e Michelle

Alguns argumentos básicos para quem acredita mesmo na decisão do coronel Mauro Cid de recuar da delação de Bolsonaro e de gente do seu entorno por envolvimento nos crimes do Planalto.

O ex-ajudante de ordens, que acorda delator e dorme conciliador, pode ter chegado à conclusão de que não precisa dedurar o ex-chefe. As provas contra Bolsonaro estariam chegando à Polícia Federal de todos os lados.

É uma munição pesada que ele não precisaria gastar, porque envolve altos riscos, pelos estilhaços que provoca e porque pode ter efeitos duvidosos.

Com o recuo, Cid assumiria a sua parte, obediente à orientação do advogado Cezar Bitencourt. Detalharia à PF como as operações com as joias aconteciam e poderia sugerir fidelidade pública e eterna a Bolsonaro.

E ficaria esperando que o sujeito se enredasse em informações fornecidas por outros protagonistas da venda e recompra das muambas, principalmente o advogado Frederick Wassef.

Mauro Cid deixaria que a PF chegasse às conclusões incriminadoras a partir do que ele mesmo conta e do que outros irão contar, inclusive os que silenciam, mas sem delação explícita.

Sendo assim, o resto ficaria por conta da devassa em celulares e rastros deixados pelos operadores dos negócios com os presentes.

Só que Mauro Cid era o três em um de Bolsonaro. Resolver a sua parte na questão das joias pode significar apenas que uma das três frentes estará perto de solução.

Ficaria faltando a sua contribuição para a amarração dos rolos das fraudes nos cartões de vacina e das conversas sobre a articulação do golpe. Cid é protagonista nas três áreas.

É possível que ele contribua para o esclarecimento do caso das joias e deixe os outros crimes, em especial os que envolvem o golpe, serem empurrados
adiante pela inércia, sem a sua contribuição ativa?

É possível que o coronel recue da intenção de fazer revelações muito drásticas sobre os parceiros de delinquência e deixe as coisas acontecerem?

Bolsonaro e Michelle, que também se encarregaram de disseminar a informação de que o coronel não irá incriminá-lo, passaram a sensação, em evento do PL em Brasília no sábado, de que estão confiantes.

O clima no encontro era de vamos-lá-que-dá e de reforço da aposta em Michelle, com um Bolsonaro feminista exaltando o fortalecimento das mulheres na política e citando a companheira como exemplo.

Bolsonaro referiu-se à esposa como “a senhora Michelle”, o que passa uma certa formalidade e pode indicar que o tom, a partir de agora, será cerimonioso. A senhora Michelle é uma aposta.

Mauro Cid está sabendo dessa desenvoltura, do deboche do projeto da Mijoias e de outras ironias de Michelle com o sistema de Justiça e em especial com Alexandre de Moraes.

Os Bolsonaros ainda se apresentam no circo do PL, dentro do calhambeque de Valdemar Costa Neto, e ele, o ex-ajudante, dorme com o elefante desde 3 de maio.

Mauro Cid não vai livrar a cara do casal por desprendimento ou total submissão à dupla que o usou como mandalete pessoal e transformou seu pai em sacoleiro de muambas das arábias.

O coronel precisa de uma estratégia e essa agora pode ser a sua saída. Assumir com a PF o que não tem como negar que fez e deixar que Bolsonaro seja comido pelas informações de outros asseclas.

Mauro Cid pode estar mesmo num cantinho, encolhido como um bom mandalete, como pode também estar fingindo que está no cantinho.

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