A indignação com o racismo só acalma um pouco nossas culpas

Policiais matam negros e pobres todos os dias no Rio e no mundo todo, e os casos de maior repercussão, porque foram filmados, são exibidos na TV e na internet.

Mas os policiais continuam matando e alguém continua filmando, mas na maioria das vezes, não. Assim como os racistas que andam pelas ruas continuam atacando negros no mundo todo.

Só os casos que envolvem gente famosa acabam provocando reações de indignação que duram uma semana. Nos outros, nos casos invisíveis, não duram nada, porque a indignação nem se manifesta.

Nesse momento, em algum lugar, negros estão sendo ofendidos ou atacados ou mortos pela ação de supremacistas e até de policiais negros.

A reação contra os ataques a Vinicius Júnior, que mobilizaram gente de todas as áreas em todo o mundo, vão durar o tempo das indignações.

E uma indignação que renda exposição hoje em dia pode durar apenas algumas semanas, até o próximo ataque, que vai gerar novas indignações.

E assim o mundo vai vivendo de indignados, o que não significa nada. Significa apenas que as pessoas confiam na capacidade de se indignarem para que assim produzam suas próprias sensações de consolo.

Um indignado contra o racismo pode ser útil para produzir ações concretas das instituições, para que os racistas sejam contidos e punidos.

Mas a indignação sozinha não tem força alguma para mudar a realidade. Indignar-se pode significar apenas que ainda nos comovemos com os dramas alheios. E só.

Tudo o que se promete fazer agora, a partir do caso de Vinicius Júnior, pode produzir efeito zero, porque tem sido assim.

O racismo no futebol convive com dirigentes e técnicos adoradores de racistas. Com dirigentes, técnicos e jogadores que adoram adoradores de torturadores.

O racista é o mesmo fascista homófobo que também odeia índios e disfarça seu ódio pelos pobres, mesmo que muitos deles sejam de famílias pobres.

Alguns até se dizem indignados com o racismo, porque é o que deve ser considerado normal e protege imagens. Os adoradores de adoradores de fascistas ajudam a nos confundir.

E assim vamos indo em direção ao nada, como diz o técnico Pep Guardiola, pessimista com o que pode acontecer depois do caso Vini. A Espanha continuará a mesma, diz Pep.

O Brasil continuará o mesmo. As instituições não desafiam o poder supremacista dos brancos do futebol, dos seus patrocinadores de extrema direita, das grandes grifes e das torcidas que precisam lotar os estádios com a ajuda dos racistas.

O combate ao racismo é ocasional e até oportunista, porque desafoga nossas culpas e deixa tudo como está.

Homófobos, racistas, xenófobos e todos os impunes por atitudes e ações violentas só ganham uma vitrine maior no futebol.

Em todo o resto, que é o mundo que nem todo mundo vê, eles agem quase à vontade e sem medo. Não vai dar nada não é uma frase, é a realidade sempre no infinitivo.

3 thoughts on “A indignação com o racismo só acalma um pouco nossas culpas

  1. Bom dia,com alegria! Sou seu leitor assíduo. Infelizmente o mundo é cruel e durante o último governo piorou. Formosa GO 69 anos

  2. Arquibancada é local de gente muito sem educação e burra (eu já fui torcedor e de fato eu era um homem bem mais ignorante do que sou hoje).

    Por isso as arquibancadas são ótimos lugares para abrigar racistas, fascistas, assassinos e todo tipo de gente ruim. É assim no Brasil, na Turquia, na Espanha, na Itália, na Inglaterra.

    Há um documentário de 2005, do qual eu não me lembro o nome, mas que está no Youtube, de um hooligan inglês que viajou o mundo inteiro para observar de perto a violência nos estádios em vários países (ele gosta de briga!). Então é possível afirmar que existe essa brutalidade.

    Posto que as arquibancadas são locais onde se aboletam animais selvagens e violentos, se eu fosse um atleta negro eu não compraria uma briga política por mudanças sociais, porque isso atrapalharia meu desempenho e, consequentemente, minha carreira. O goleiro Aranha, ex-Santos, é um exemplo disso. Qual movimento social progressista hoje acolhe o Aranha, um homem triste, que terminou a carreira mais cedo e em clubes pequenos?

    O Vini Jr. já havia recebido alertas de que na Europa todo o sistema envolvido com o futebol (torcedores, dirigentes, mídia, etc) odeia as dancinhas (e o teatro) brasileiros dentro de campo. Os primeiros ataques racistas contra ele vieram por causa disso. Quando perceberam que era algo que tirava do sério um craque de um dos melhores times do mundo, os racistas não pararam mais.

    E não vão parar.

  3. O cinismo do brasileiro agora chegou na Europa.  Aqui a população negra é tratada como uma inimiga a ser aniquilada. Somos todos antirracistas de ocasião dispostos a apoiar o Vini Jr, porque não admitimos racismo no Brasil. Só  que não. Os nossos racistas prediletos são tratados como heróis nacionais.  Não há interesse da sociedade em discutir as biografias  de Nina Rodrigues, Monteiro Lobato, Renato Kehl, Afrânio Peixoto, Artur Ramos , Belisário Pena, Carlos Chagas, Miguel Pereira, Azevedo do Amaral, Vital Brasil e o celebrado abolicionista Joaquim Nabuco. Falta mais gente nesse armário cheio de esqueletos.

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