A INTIMIDAÇÃO FRACASSADA

Quando a TV anunciou que Bolsonaro estava matematicamente eleito, um vizinho começou a gritar o nome do sujeito, reuniu a família e saiu pela rua onde moro aqui na Aberta dos Morros. Já era uma cena prevista pelos ensaios dos últimos dias.

Andavam em círculos e gritavam: “Agora vocês vão ver, seus petralhas”, “é Bolsonaro”, “acabou, seus petês de merda”. Ele e duas pessoas. A rua é calma, uma rua de casas, quase não passa carro.

Foram de um lado pra outro gritando no meio da rua. Alguns vizinhos abriram portas e janelas, mas não acolheram a provocação.

Janelas se fecharam e alguns cachorros latiram. E o vizinho sempre gritando com sua trupe. “Acabou, acabou, agora é com Bolsonaro, vocês vão ver o que é bom, petralhada”.

Parecia que tentavam arregimentar apoios para o jogral e, quem sabe, para uma milícia já no primeiro dia. No início, me assustei com as ameaças e com os foguetes e tiros de revólver que ouvia no entorno.

Mas percebi que os foguetes e os tiros não duraram muito. E que o bloco foi se esvaindo.

Vi logo que haviam fracassado, que a rua não gosta de ameaças à vizinhança. O corso improvisado voltou pra casa resmungando e até a cachorrada se acalmou.

Pensei nos filmes de suspense. Aprendi a entender os intervalos com aquelas ofegantes calmarias. Mas foi passando e passou.

É estranho, mas talvez seja o que deu pra perceber: eles gritam muito aqui por perto (sempre gritaram), mas não têm parceiros para a gritaria e para a tentativa de espalhar medo. Espero que continue assim.

Gosto dos meus vizinhos próximos, os que fecharam portas e janelas. Não me considero amigo deles, mas os conheço e os respeito. É o que ofereço e espero ter de volta, e mais ainda nesse momento.

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