A meritocracia dos vazadores

É inquietante a denúncia de Reinaldo Azevedo, segundo a qual ninguém da grande imprensa vai se interessar em investigar como Deltan Dallagnol ingressou no Ministério Público.
Azevedo diz que o jornalista que investigar a vida de Dallagnol nunca mais receberá informações seletivas vazadas pelos procuradores.
Mas os procuradores vazam informações? Vazam e vazam muito. A ombudsman da Folha de S. Paulo denunciou no ano passado como a famosa lista de Janot foi vazada por procuradores para os jornalistas antes de chegar ao Supremo.
Todos os jornalistas da grande imprensa que cobriam a Procuradoria tinham as mesmas informações, com os mesmos nomes e as mesmas vírgulas. Jornalista que cobre a Lava-Jato virou assessor de imprensa dos acusadores.
E o que acontece? Nada. Até Gilmar Mendes já denunciou os vazamentos da Lava-Jato.
Janot disse que era bobagem, os procuradores se fizeram de desentendidos e imprensa não foi atrás da informação, porque a própria imprensa era beneficiada pelo delito.
Agora, Azevedo acusa Dallagnol de ter entrado no MP pela porta dos fundos, graças a uma liminar da Justiça (porque não teria dois anos de formação em Direito, exigidos por lei para se habilitar a atuar como procurador).
E o procurador já respondeu que era normal entrar assim, que muitos fizeram o mesmo. E agora? Agora, em nome da meritocracia especial, se muitos fizeram o que ele fez (é o mesmo argumento do corrupto), tudo passa a ser normal.
Viva a normalidade dos xerifes seletivos. O serviço público nem precisa mesmo de concursos para vazadores, delatores e caras de pau.

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