Aécio apenas acusa

O desfecho de todos os casos envolvendo Aécio Neves poderá ser o total desperdício de dúzias de delações. Pelo que se viu até agora, os delatores terão perdido tempo apontando as propinas pagas ao tucano.

O procurador-geral da República não consegue apurar nada de Furnas (em maio, o inquérito completará um ano, e Rodrigo Janot pediu mais prazo), e no Tribunal Superior Eleitoral Aécio pode se safar de denúncias sob a proteção de um argumento “técnico”.

O Estadão revelou que o ministro Herman Benjamim, relator do processo do PSDB contra a chapa Dilma-Temer, mandou que tudo que aparecer contra Aécio (como aparece a todo momento no TSE, por relatos de delatores) deve ficar de fora dos autos.

Porque as propinas para Aécio não são objeto do processo. O PSDB presidido por Aécio é o acusador. Foram os tucanos, liderados pelo mineiro, que pediram a investigação das contas de campanha de Dilma e Temer.

O raciocínio, em síntese, é este: acusador não pode virar acusado. É mais ou menos, num exemplo singelo, como um delegado de polícia que abre um inquérito a partir de uma denúncia em que alguém acusa outro de receptação. No meio das investigações, o delegado descobre que o acusador também é receptador do mesmo tipo de mercadoria e nas mesmas circunstâncias.

Mas, como o inquérito não foi aberto com o objetivo de pegar este receptador (no caso, o acusador), que se pegue apenas o primeiro (o acusado).

Também é assim que funciona a Justiça no Brasil, e não só a eleitoral. Processos contra tucanos nem são abertos, porque muitos prescreveram. Corruptos tucanos morrem de velho e impunes, como alguns dos propineiros do metrô paulista. São idosos inimputáveis. Só pegam prepostos subalternos do PSDB do terceiro time.

Aécio poderá ser delatado mais mil vezes, porque será difícil que aconteça qualquer coisa contra ele. A não ser que o procurador-geral, tão ocupado com a lista da Lava-Jato, encontre algo sobre Furnas.

É improvável que o Brasil veja um tucano graúdo preso, andando com as mãos nas costas. Poderá ver um tucaninho sem expressão nacional, para que a Lava-Jato ou os envolvidos com o caso de Furnas possam dizer que prenderam um deles. Mas não espere um tucano grande em alguma masmorra como a de Curitiba.

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