JÂNIO E DRUMMOND

A Folha demitiu Jânio de Freitas, o decano do jornalismo brasileiro e um dos mais importantes textos de esquerda da história da imprensa. Jânio está com 90 anos.

Há quem ache que poderia mesmo ser mandado embora. Outros podem achar que deveria morrer escrevendo para a Folha.

Os jornais, os bancos, as metalúrgicas, os açougues e os supermercados mandam gente embora todos os dias, os importantes e os desimportantes.

Há cinco anos, escrevi sobre a demissão de Carlos Drummond de Andrade pelo já decadente Jornal do Brasil, em 1984. É uma situação que se repete.

Republico o texto abaixo, de 18 de agosto de 2017, como se estivesse escrevendo sobre Jânio de Freitas.

PORQUE O JB DISPENSOU DRUMMOND
Os jornais registram hoje os 30 anos da morte de Carlos Drummond de Andrade.

Cada vez que falam do poeta eu me lembro de um episódio de 1984 que se repete ainda hoje, quando os jornais se livram de colaboradores de prestígio como se estivessem se livrando de fardos.

Pois em 1984, para consolo dos que são mandados embora sem muita explicação, o Jornal do Brasil livrou-se do cronista Drummond.

Me lembro da notícia na Ilustrada da Folha de S. Paulo, enxergo o texto num canto inferior de página e me lembro mais ainda do argumento do JB.

Li espantado que o jornal dispensava Drummond porque o índice de leitura de sua coluna havia caído muito. Era o que a Folha dizia. Drummond escreveu no Caderno B do JB de 1969 a 1984, três vezes por semana.

Um dia, 15 anos depois, alguém decidiu que não precisavam mais dele e que o leitor não sentiria sua falta. O leitor quase não reclama. Em algum momento, ele simplesmente desiste.

Podem perguntar: mas como mandam Drummond embora, e com o argumento do que hoje chamariam de audiência baixa? Pois mandaram.
Sim, hoje os jornais também falam de audiência, como se fossem rádios, até porque muitos estão mesmo virando rádios escritas.

Drummond morreu três anos depois de ter sido dispensado pelo JB. Esse é um consolo a quem é largado de repente pelas redações da vida. Um dia, o JB, já caindo aos pedaços, livrou-se de Drummond.

Quem quiser, pode até dizer: me mandaram embora como se eu fosse um Drummond qualquer.

2 thoughts on “JÂNIO E DRUMMOND

  1. A “faia de spaulo” não é jornal faz tempo . virou banco. Um empresa do setor financeiro.
    Acho que colocarão no lugar do JÂNIO o POSTO Ipiranga, que à partir do proximo dia primeiro estará desempregado. Ele até recusou a sefretsria da fazenda de SP para poder ir para lá.
    E outra : não foi a FAIA que se livrou do JÂNIO , mas JÂNIO se livrou da FAIA .

  2. Ambos os jornais, cada um a seu tempo, não comportavam mais a grandeza de seus escritores. Pior ainda, nosso próprio país está quase não merecendo mais a existência deles em sua história. E a Folha está tendo PAPEL importante nessa transformação negativa.

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