O fascismo argentino e a tática do terror
O que Javier Milei chama de choque é na verdade a disseminação do terror, nos dois primeiros dias de governo. A Casa Rosada já alertou, pelo porta-voz Manuel Adorni e pelo ministro da Economia, Luis Caputo, que haverá hiperinflação.
E o primeiro pacote saiu nesta terça. O chamado dólar oficial foi corrigido de 366 para 800 pesos. O dólar paralelo já estava entre 950 e mil pesos.
Não haverá licitação de obras públicas por tempo indeterminado. São reduzidos (sem esclarecer em quanto) os subsídios do governo às tarifas do transporte público (metrô) e de energia. Os gastos com propaganda do governo nos meios de comunicação são suspensos por um ano.
O governo irá suspender, por tempo não fixado, as transferências de recursos federais às províncias.
Haverá aumento de imposto nas importações. Em compensação, será dobrada a ajuda do governo a famílias pobres (tipo Bolsa Família) e aumentado em 50% o valor de um cartão para compra de alimentos. Mas nenhuma medida teve detalhamento.
Fora do pacote, servidores públicos foram avisados de que haverá uma caçada a quem, na versão do governo, mais faz militância política do que trabalha.
Os exportadores foram impedidos na segunda e na terça, e não se sabe até quando, de fechar contratos de venda de seus produtos.
Os sindicatos foram ameaçados com represálias se convocarem protestos, e o próprio Milei anunciou no discurso de posse que bloqueadores de ruas perderão direitos, sem esclarecer o que isso significa.
Mas já estão marcadas para os dias 19 e 20 as primeiras manifestações de rua contra o fascistão.
Foram programadas antes mesmo da posse, porque todos sabiam o que viria nos primeiros dias do governo.
Os piqueteiros, como são chamados agrupamentos de trabalhadores, a maioria sem vínculos formais com sindicatos, comandarão os protestos.
Os jornais argentinos registraram ontem que alguns produtos já tiveram aumento de preço de 100% e que a população de Buenos Aires correu aos supermercados para fazer estoques.
O clima no governo é de esculhambação. Luis Caputo gravou um vídeo com as medidas econômicas, que seriam anunciadas às 17h da terça-feira.
Milei viu o vídeo e mandou que o ministro gravasse tudo de novo, porque implicou com um trecho.
Equipes da produção de vídeos do governo tiveram que retornar ao Ministério da Economia, onde o ministro fez nova gravação.
Será que dura meio ano?
____________________________________________________________________________
MACRI MANDA
Luis Caputo, ministro da Economia de Javier Milei, foi presidente do Banco Central no governo de Mauricio Macri (2015-2019).
Patricia Bullrich, ministra da Defesa de Milei, foi ministra da Defesa do governo Macri e candidata da turma de Macri à presidência pela coligação Juntos pela Mudança.
Luis Petri, também da velha direita, candidato a vice na chapa de Patricia Bullrich, é o ministro da Defesa de Milei.
Santiago Brasil, que assume o Banco Central com a missão de destruí-lo, é economista macrista e foi sócio de Luis Caputo numa empresa de consultoria.
O advogado Silvestre Sívori, diretor de assuntos jurídicos do Ministério dos Transportes de Macri e quadro do segundo time do macrismo, será o diretor da Agência Federal de Inteligência.
A AFI é a Abin deles, onde atuavam os arapongas que perseguiam Cristina Kirchner durante o governo de Macri.
A direita tradicional tomou conta do governo de Milei, o que pode mais adiante resultar num impasse, quando o extremista decidir se livrar das amarras do macrismo.
_____________________________________________________________________________
CARAJO
No domingo, Javier Milei escreveu no livro do Congresso assinado por todos os presidentes do país: “Viva la libertad, carajo!”
A tradução é óbvia: viva a liberdade, caralho. O fascista costuma usar essa expressão.
Na segunda-feira, ao fazer juramento como governador eleito da província de Buenos Aires, o peronista Axel Kicillof deu em discurso a sua versão e disse: “Viva la justicia social, carajo”.
Só que esse carajo não tem mais, nem na Argentina nem no Brasil, o sentido original da palavra. Vale mais como uma exclamação.
Ah, mas é uma palavra associada ao órgão sexual? É, mas sem a força de uma expressão obscena.
Há textos de linguistas na internet tratando dessa controvérsia.
Essas medidas vão afetar as exportações brasileiras para lá e, claro, as importações, principalmente do trigo. Mas o Brasil tira isso de letra.
O pior, mesmo, é o que os hermanos vão sofrer nos próximos anos e a divisão do povo que será acentuada, como estamos experimentando por aqui após nossos quatro anos de tragédia!
Todo mundo já viu este filme aqui no Brasil e sabe o que acontece no final. O problema é que os vilões da Argentina também já viram o mesmo filme no Brasil, e sabem o que fazer para neutralizar os mocinhos no final. Será que os mocinhos argentinos vão saber o que fazer para o fim de lá ser mais ou enos parecido com o de aqui? Onde o mal é afastado e perde poder, mas infelizmente não morre? Será que o filme aqui do Brasil ainda vai ter um final feliz FELIZ? bandidos na cadeia ou mortos e a sociedade em paz, sem divisões?
A saber!
Quanta saudade de Maradona.