O jornalismo que sesteia

Li reportagens de Marco Weissheimer, no Sul21, e de Flávio Ilha, no Extra Classe, sobre os confrontos na Praça da Matriz. Boas reportagens sobre, entre outras coisas, a polvadeira que se ergueu no embate entre brigadianos, de um lado, e policiais civis e servidores do sistema penitenciário, de outro.
Os brigadianos na tarefa de impor a ordem, em nome do governo, e os outros defendendo seus direitos que o pacote sequestra.
A sensação desagradável é que Marco e Flávio fazem o que poucos fizeram nesses episódios. Parece que o jornalismo das grandes redações abriu mão de cobrir o conflito a campo, com as exceções de sempre, que se manifestam quase quase só nas pequenas equipes de sites ainda considerados alternativos.
Se alguém pegar os arquivos dos grandes jornais daqui a alguns anos, em papel e em versões online, não terá a dimensão do que aconteceu. O jornalismo dá sinais (já deu outros) de que está se afastando da cobertura de fatos que parecem incomodá-lo.
É preocupante, porque o que aconteceu na Praça da Matriz esta semana tem uma dimensão jornalística e histórica única.
A imprensa dita tradicional não poderia ter adbicado de fazer jornalismo na cobertura das batalhas inéditas provocadas pelo Pacote das Bombas do governo Sartori.
Sempre com a ressalva das exceções, os conflitos na Praça parecem sem rosto, sem voz, sem sonhos, sem dramas pessoais. Não se trata apenas de ‘dar a notícia’ que qualquer um pode dar, mas de ter a dimensão correta da grandeza do que está acontecendo e fazer uma abordagem diferenciada. Isso depende menos do heroísmo de uma turma de repórteres e mais do comando de uma redação.
A grande imprensa que ignora um fato deste tamanho e seus protagonistas acaba por oferecer munição aos que dizem que o jornalismo convencional está definhando por conta de suas próprias omissões.
O que aconteceu na Praça da Matriz pode ter sido um estorvo para o governo, mas não poderia nunca ser visto como um estorvo para o jornalismo dos grandes veículos.