O jornalista de direita

Acompanho com atenção a imprensa embarcada, que, se pudesse, circularia de capacete, colete à prova de bala e porta-spray de pimenta ao lado da turma do golpe.
É preciso ler o que escrevem e dizem para conhecer suas ideias e tentar saber em nome de quem andam falando.
Chega a ser comovente o regozijo de certos jornalistas com o resultado das eleições.
Porque cada um expressa a opinião que quiser. Mas ainda é estranho, depois da adesão às vezes dissimulada ao golpe, ver a felicidade tucana de alguns comentaristas, principalmente os do centro do país.
O jornalismo de direita estava hibernando há muito tempo, com roupas de camuflagem, disfarçado em alguma conversa fiada de independência.
Agora saiu do armário. Nunca antes se viu tanta gente feliz com a previsível derrocada das esquerdas, depois do massacre seletivo da Lava-Jato.
Qual é a função no mundo de um jornalista de direita, se o jornalista tem de ser um transgressor, no mais amplo sentido? No que transgride um sujeito que avaliza o reacionarismo e um golpe e se emociona com a vitória de um Nelson Marchezan Júnior, por exemplo?
O jornalista de direita era uma figura clássica nas redações, um ultraconservador que prosperou durante a ditadura e depois formou seguidores.
Tinha-se a impressão de que ele era um personagem tão completo que a qualquer momento poderia apresentar carteira de direitoso.
Mas agora o jornalista de direita é um indivíduo geralmente simplório e ridículo. O opinador mediano é um adesista prestativo, sem lastro ideológico, um porta-voz de alguém. Acabou a figura do jornalista de direita respeitado por seus conhecimentos e sua convicção. O que temos hoje são jornalistas de direita oportunistas.
A missão de um jornalista de direita não é fazer jornalismo, é apenas ser jornalista de direita. O golpe precarizou até a atividade dos jornalistas de direita.

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