POR QUE O BOLSONARISMO TEM VERGONHA DE BOLSONARO

O militante que ainda pode ser chamado de bolsonarista raiz vê vitalidade em Bolsonaro, mesmo quando o guru é exposto pela família em fotos depreciativas, prostrado numa cama de hospital em Orlando.

Mas o bolsonarista bissexto, que teve de aderir a Bolsonaro por exclusão e esforço eleitoral, não confia muito nele e não quer ter sua imagem pessoal vinculada à do homem que nem Valdemar Costa Neto protege mais.

Boa parte do bolsonarismo tem vergonha de Bolsonaro. Bandeiras carregadas nas costas e expostas em janelas de casas e apartamentos (e que são cada vez mais escassas) não têm a cara de Bolsonaro.

A campanha eleitoral nas ruas foi feita sem o rosto e o nome de Bolsonaro. A bandeira serve de muleta para o ‘nacionalismo’ militarizado, que é fascista, mas não é necessariamente bolsonarista.

O bolsonarismo, que segundo o Datafolha representa 25% do eleitorado, pode ser percebido em várias camadas. E há camadas superpostas de bolsonaristas que se dizem fiéis, mas são vacilantes.

Se não fossem, patriotas e manés acampados em quartéis mostrariam Bolsonaro. Raros, raríssimos, vestiam a camiseta com a cara do ídolo.

Os acampados pediam os militares, não a permanência de Bolsonaro. E muitos dos que pediam intervenção militar sabiam que os generais só não agiram porque não se sentiram seguros ao lado de um alucinado que alucinava manés em contato com marcianos.

O homem que destruiu o relógio de João VI no Palácio do Planalto, e que vestia uma camiseta com a cara de Bolsonaro, é o manezinho clássico do bolsonarismo explícito. 

Mas o manezão que nunca é preso e todo grande fascista não vestem camisetas com a cara de Bolsonaro, raramente vestiram. 

Nem nas manifestações de rua da pandemia, quando a direita tentou reagir às caminhadas das esquerdas, Bolsonaro era mostrado.

A imagem exibida em camisetas, faixas e cartazes era a de Sergio Moro, que depois iria virar inimigo.

O bolsonarista cada vez mais confuso enfrenta agora o dilema de continuar ao lado de um sujeito que fugiu, enquanto parentes e amigos estão presos ou voltam para casa com tornozeleiras. 

Bolsonaro foi abandonado pelos militares e pode ter mantido, de forma protocolar e silenciosa, o apoio dos generais da sua turma.

O PL não quer saber de Bolsonaro. Grandes golpistas do centrão correm em direção a Lula, junto com empresários ricos golpistas ‘arrependidos’. A covardia tem a sua racionalidade.

Não há por que ficar ao lado de Bolsonaro, se não sabem nem se irá retornar dos Estados Unidos e se tem saúde para fingir que lidera alguém.

Bolsonaro ainda tem o apreço da bancada que elegeu (e que não se elegeria sem ele e a dinheirama do orçamento secreto) e deve contar com a compaixão de criaturas maiores, como Tarcísio de Freitas.

Tarcísio não existiria sem Bolsonaro, mas pode não existir mais se continuar com Bolsonaro. É um abraço de afogado-polvo, com tentáculos que puxam para baixo quem estiver por perto.

Bolsonaro talvez deixe de existir como expressão política enquanto estiver nos Estados Unidos, porque será comido pelos que tentarão tomar seu lugar.

Quando voltar ao Brasil, se voltar, será um Eduardo Cunha ou no máximo um Aécio Neves. Mas Aécio nunca foi preso.

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