UM POVO DE PAZ
Aquela prometia ser a pior noite desde o golpe. Correu pela cidade a notícia de que um posto da zona norte, no fim da Assis Brasil, seria o único que ainda tinha gasolina em Porto Alegre.
Era como se a cidade toda estivesse se movimentando em direção à região onde restavam as últimas gotas do combustível. A maioria a pé. Mas também havia gente de bicicleta arrastando bombonas de plástico para encher de gasolina. Milhares levavam garrafas vazias de Coca-Cola, Fruky e H2Oh.
Andavam em ritmo acelerado e gritavam: a culpa é do PT, a culpa é do PT. Outros berravam Bolsonaro vem aí. Muitos vestiam a camiseta da Seleção com a foto de Aécio. Era uma procissão cívica da classe média, tudo gente de bem.
As rádios alertavam a todo momento para que tivessem calma e bom senso. E diziam que o governo ainda tinha o controle da situação. O governo vai reduzir a Cide, anunciavam as rádios. Com a Cide mais baixa, o protesto dos caminhoneiros seria suspenso e haveria gasolina para todos. O governo prometia tirar dinheiro até do SUS para reduzir o preço da gasolina.
As pessoas não poderiam deixar de ser sensatas. Se haviam se resignado desde o golpe de agosto de 2016, acomodadas com o fim das leis trabalhistas, com o fim da previdência, com o fim das esperanças e do emprego, com os aumentos mensais do gás, com a prisão de Lula, deveriam continuar conformadas.
A inflação é de 0,27%, diziam os comentaristas das rádios. Os juros caíram. A recessão está chegando ao fim. O governo vai liberar outra parcela do FGTS. E a revista The Economist disse que o Brasil será com Henrique Meirelles o país do futuro.
A gasolina não é tudo, dizia um jornalista-radialista conhecido por suas mensagens fofas e sempre positivas. Mas as pessoas não queriam ouvir radialistas fofos. Filas enormes se formavam em direção à Assis Brasil. O último posto com gasolina era o alvo.
Mas quando os enxames de gente começaram a chegar perto do posto, a rádio anunciou: o governo acaba de decidir a redução da Cide sobre os combustíveis em 0,45% e mais a liberação do Pis/Pasep para todos.
O ritmo daquela coluna de gente começou então a ficar mais lento. E a rádio repetia: a Cide será de quase zero por cento. Voltem para suas casas. Pensem na Cide, no Pis, pensem no Pasep.
E se iniciou o movimento de retorno. Os que haviam ido estavam voltando. Alguém puxou o coro e a massa passou a cantar o hino. Outros gritavam: a Cide é nossa, a Cide é nossa.
O posto estava salvo, o jaburu está salvo, o Brasil estava salvo. E o Pis/Pasep seria liberado de uma só vez. O comentarista de uma rádio chorava, ao vivo, porque o brasileiro oferecia ao mundo, mais uma vez, a prova de que é um povo de paz.
estou em Ouro Preto e aqui não tem mais gasolina , nem diesel.
Eu não consigo parar de rir dos idiotas dos coxinhas que acreditaram QUE o COMBUSTÍVEL.Ia baixar depois do impeachment de Dilma..