Um socialista
Entrevistei Mário Soares em 2002 quando ele esteve em Porto Alegre para um painel no Fórum Social Mundial. Ficamos de conversa por quase duas horas na suíte presidencial do Plaza São Rafael.
Quando eu perguntei se ele continuava sendo o mesmo socialista da juventude, depois de tantas tentativas e de tantos fracassos, ele me disse algo singelo, mais ou menos assim: hoje nós só sabemos o que somos menos por definições e mais pelo que de fato fazemos.
Sim, Mário Soares continuava socialista. Me lembro de um sujeito extremamente cordial. O mundo perdeu um democrata valente. No momento da sua morte, seu exemplo poderia inspirar o Brasil a tentar de novo livrar-se das mordaças do golpe de agosto do ano passado.
Tive o privilégio de conhecer pessoalmente Mario Soares, por volta de 2004, 2005 em São Paulo. Nos breves momentos em que conversamos, em companhia de alguns amigos, deu pra perceber que se tratava de um homem de cultura refinada, de uma inteligência viva, de um socialista atualizado e de um democrata convicto. Lutou contra a ditadura Salazarista, foi preso, exilado, e sempre com o propósito de devolver o regime democrático ao seu país. Jamais mentiu aos portugueses. Ao contrário dos farsantes que governaram o Brasil nos últimos doze anos, travestidos repentinamente de democratas enquanto bajulavam ditadores cucarachas.