Uma pergunta à PF, ao MP e ao Supremo: por que só o celular de Hang é indevassável?

O celular do delegado Anderson Torres tinha mensagens golpistas e, pelo que ficamos sabendo agora, até uma imagem sugerindo que Lula deveria ser enforcado.

Nada que surpreenda. Tios graduados e tios chinelões do zap tratavam do golpe como algo banal e trocavam imagens infantis e grosseiras, como essa da forca, que nem merece ser publicada aqui.

Mas se já sabemos tudo que importa do celular de Torres, aberto pela Polícia Federal porque o delegado forneceu a senha, e dos celulares de outros golpistas que liberaram acesso aos seus aparelhos, nada sabemos do celular de Luciano Hang, o autoproclamado véio da Havan.

O celular do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, foi apreendido no dia 3 de maio deste ano. Menos de três semanas depois o conteúdo no aparelho e em nuvem estava aberto, sem que ele tivesse liberado as senhas. E logo ficamos sabendo que o celular tinha cópia de uma minuta do golpe.

Essa informação da Folha, logo abaixo, é decisiva para que se compreenda por que, depois de um impasse inicial, aparentemente foi tão fácil abrir o celular. A Folha informou, no dia 25 de maio:

“O acesso aos dados (do celular de Cid) só foi possível após o caso sair da superintendência da PF no Distrito Federal e migrar para a DIP (Diretoria de Inteligência Policial), localizada no prédio-sede da corporação, em Brasília.
A mudança de local ocorreu após a delegada Denisse Ribeiro, então responsável por todos os inquéritos relatados por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), entrar em licença maternidade, em fevereiro de 2022.
O caso então passou a ser conduzido pelo delegado Fabio Shor, que fazia parte da equipe de Denisse e foi indicado por ela ao ministro do STF. É ele quem atua na investigação até hoje”.

Sabemos muito do que foi encontrado no celular do coronel, porque o aparelho foi devassado por uma equipe especializada. Mas o celular do véio da Havan continua fechado.

A Polícia Federal também conseguiu quebrar as senhas dos celulares do general da reserva Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, e de Frederick Wassef, advogado de Bolsonaro. Mas não consegue quebrar a senha do celular do véio da Havan, apreendido em 23 de agosto de 2022.

A PF apreendeu quatro celulares de Wassef no dia 17 de agosto deste ano. Quatro dias depois, anunciou que os celulares estavam abertos, porque as senhas tinham sido descobertas. E o celular do véio da Havan continua bloqueado.

O empresário continua sob investigação, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, como parte de um grupo de zap de oito tios milionários. Moraes informou que o sujeito se nega a oferecer sua senha à PF.

Seis dos outros tios do zap da turma de Hang foram liberados da investigação, em 21 de agosto, por Moraes. Só ele e Meyer Nigri, fundador da Tecnisa, continuam no inquérito.

Já se sabe que Nigri recebia mensagens golpistas de Bolsonaro, porque a PF também abriu seu celular. Mas Hang continua sendo investigado e há um ano a PF tenta acessar seu aparelho e não consegue.

Por que conseguiu acesso a todos os outros, menos ao celular do dono da Havan, 12 meses depois da apreensão?

Logo depois da ação da PF contra os oito tios do zap, Hang disse à CNN que tinha “mil por cento de certeza” de que não iriam encontrar nada de comprometedor no seu celular. Por que então, depois dessa declaração pública, ele se negou a fornecer a senha?

Será que abriram parcialmente e não encontraram nada mesmo? Será que ainda tentam chegar a outros compartimentos? Por que essa demora? Hang só tinha um celular?

Polícia, Ministério Público e Supremo devem saber qual é o mistério que envolve o celular indevassável do véio da Havan. Alguém deve saber. E todos nós precisamos saber.

(Lembrando sempre que o empresário do celular bloqueado é investigado pelo Supremo nos grandes inquéritos que começaram, em abril de 2019, sob relatoria de Alexandre de Moraes, com as fakes news, o gabinete do ódio e as milícias digitais e hoje englobam outros casos do bolsonarismo. Em maio de 2020, a PF fez busca e apreensão em endereços do empresário. Ele também foi investigado e teve seu nome enviado ao MP pela CPI da Covid, em outubro de 2021, como participante do gabinete paralelo do Ministério da Saúde na pandemia e sob a acusação de incitação ao crime. Nos dois casos, não foi indiciado e não há sinais públicos de avanço nas investigações. No caso dos oito tios do zap, ele também continua sendo apenas investigado.)

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