ZÉ E O MAU HUMOR

Ali pelo início dos anos 70, o humor passou a ser arma decisiva do pouco que restava para o enfrentamento da ditadura sem volteios. O Pasquim passava a mão na bunda da ditadura, enquanto os brasileiros mais atrevidos (políticos, professores, militares, servidores públicos) eram cassados.
Os chargistas resistiam na grande imprensa e diziam o que os donos dos jornais, já arrependidos, não conseguiam dizer.
Depois surgem os valentes nanicos (o gaúcho Coojornal é de 1975) e reforçam essa guerra. Mas o humor é, muitas vezes, o que se tem à mão para expressar o que de outra forma não pode ser dito.
Quem não sabe disso, que assim funciona também a resistência, não pode argumentar que não viveu essa época. Que vá se informar, que leia sobre o humor como arma contra os déspotas, em todos os tempos.
Os que não entendem a performance de Zé de Abreu como gesto político não estão incomodados porque as esquerdas não conseguem fazer nada de ‘sério’ e imediato contra os desatinos de Bolsonaro (em dois meses, queriam um milagre?)
O que há é uma certa inveja delituosa do sucesso de Zé de Abreu, uma inveja criminosa, porque desqualificadora de um gesto forte e corajoso. Porque o que a maioria tenta aqui no Facebook é ser engraçadinha.
E Zé de Abreu, com seu escracho, passou a mão na bunda da direita e provocou um impacto que incomoda até uma certa esquerda. Ele não deve fazer nada porque a esquerda dita séria não consegue se organizar?
Se alguém tiver uma fórmula para sair desse impasse, que revele logo. Sair para as ruas? Quinta-feira tem a caminhada no primeiro ano da morte de Marielle. As mulheres enfrentaram a chuvarada e saíram no dia 8.
Mas tem muita gente dando receita virtual de como reagir ao bolsonarismo. Às vezes é muito chato ser de esquerda.
E quando o mau humor da esquerda se junta ao mau humor da direita, fica pior do que ouvir Luan Santana num desses malditos tubos portáteis de som na praia.