O BOLSONARISMO PEDE MAIS CRISTIANISMO NAS ESCOLAS

Uma senhora, uma mãe ou uma avó, erguia um cartaz com esse apelo nos protestos de ontem diante do Colégio Rosário, em Porto Alegre: “Por mais cristianismo nas aulas de ensino religioso”.

Outros cartazes contra professores considerados comunistas diziam o de sempre: “Marista, sim. Marxista, não” (porque o colégio é da ordem marista), “Educação sem doutrinação”, “Nossos filhos não são filhos do socialismo, são nossos”.

Mas o interessante mesmo era aquele cartaz que pedia mais cristianismo. Se a escola atendesse ao apelo e aplicasse a radicalização do ensino e das práticas do cristianismo, a direita não iria gostar.

A direita sempre tenta se apropriar impunemente de ideias, mensagens, simbolismos e figuras da esquerda. Todos conhecemos alguém de direita (eu conheço pelo menos dois) que usa camiseta com a cara de Che Guevara.

O contrário não acontece. Não há como imaginar alguém de esquerda circulando com a imagem de um guru da direita. Mas a direita tem essa carência e recorre a ídolos emprestados para glamourizar um pouco seus dilemas morais e se humanizar.

Cristo é a maior figura de esquerda de todos os tempos, pelo alcance sempre atual do que dizia e fazia. E não há figura mais sequestrada pela direita do que Cristo. Bolsonaro se considera irmão de Cristo.

Uma das igrejas mais reacionárias do Brasil, que sustenta o bolsonarismo, a homofobia e práticas disseminadores do ódio, usa o nome de Jesus Cristo em suas fachadas.

E fui então olhar o que está escrito no site da rede de colégios maristas que possa explicar tantas ofensas. Diz ali: “Educar bem para o bem. Assim é a educação marista traduzida na prática, uma proposta pedagógica que contempla todas as dimensões do ser humano. Somos movidos pelo propósito de contribuir para o desenvolvimento integral dos estudantes, atuando em sintonia com as famílias”.

A rede marista enaltece os valores do humanismo, do cristianismo, da defesa do meio ambiente, da socialização das relações e do conhecimento. Estimula a troca de opiniões, a solidariedade, a cidadania.

Tudo isso está escrito no site da rede. Não tem nada de esquerdismo ou de comunismo. Mas tem muito das ideias que ferem a base ideológica do bolsonarismo, o lastro de direita que explora o irracionalismo e as ignorâncias.

Alguns militantes de extrema direita deveriam deixar de lado essa história dos valores cristãos, porque geralmente são conflitantes com seu jeito de encarar a vida e a educação.

O apelo retórico para que o ensino seja mais cristão se choca com o esforço para censurar a educação e impor, com a militância de políticos, a ideia da escola sem partido.

Como escola sem partido? Com mobilizações lideradas por políticos da extrema direita diante das escolas?

Deixem os professores em paz, ou criem escolas exclusivas apenas para as famílias de militantes do bolsonarismo. E não façam leituras enviesadas da vida de Cristo. Leiam. Estudem. Não passem vergonha diante dos filhos.

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