Delator pela metade

Quem vai levar adiante a denúncia do ex-chefe da Advocacia-Geral da União de que o governo está empenhado em abafar a Lava-Jato? Quem vai identificar e punir os responsáveis pela tramoia? Ou a AGU, Temer e seus ministros são intocáveis?

Fábio Medina Osório era homem de confiança do poderoso ministro Eliseu Padilha e deve saber muito bem do que fala. O advogado gaúcho foi acolhido pelo núcleo golpista desde o começo.

Lembremos que Lula está sendo processado sob a acusação de obstrução da Justiça. Quem, no Planalto, vem tentando obstruir a Lava-Jato? Osório deve falar tudo, e logo, ou a denúncia dele vai para a vala onde é enterrado tudo que pode pôr em risco a direita.

Já disseram, antes de Osório, que as delações empacaram porque estariam atingindo Aécio, Serra, Temer e outros, e que isso não estava previsto. Por que não se fala mais em delação?

Dizem e repetem que o juiz Sergio Moro é quem determina o que o Supremo deve deliberar para o bom andamento da Lava-Jato na primeira instância de Curitiba. E que ninguém tem coragem de contestar Moro.

Dizem ainda que a Polícia Federal tem um núcleo lava-jatista completamente tucano (o que parece não ter fundamento). Falam o mesmo (e sem fundamento, claro) da força-tarefa do Ministério Público da Lava-Jato em Curitiba, assim como diziam (e parecia absurdo) que o japonês símbolo da PF era corrupto.

E dizem ainda que, antes de qualquer outra providência, o empenho geral agora, da PF, do Ministério Público e de Moro, é no sentido de prender Lula. O importante é aprisionar Lula no mais rápido processo da Lava-Jato, porque 2018 está logo aí.

Sem nenhum vazamento que atinja tucanos e a turma do PMDB e sem qualquer avanço nas delações contra os que estão hoje no poder, é de se prestar atenção na declaração do senhor Osório. A denúncia não pode ficar solta, como  desabafo de um ressentido.

A informação de que tentam abafar a Lava-Jato dentro do Palácio do Planalto vem de alguém que ocupava alto cargo, diretamente envolvido, na copa e na cozinha, com questões sobre corrupção e com a nobre tarefa de defender os interesses da União.

Medina deve falar tudo o que sabe, ou ficará por aí como mais um delator pela metade.