Jorge Pontual é modelo de jornalista para Silas Malafaia

Que jornalista, depois de décadas na profissão, gostaria de ser citado por Silas Malafaia como caso exemplar de defensor da liberdade de expressão?

Pois aconteceu ontem em Copacabana. Jorge Pontual, 75 anos, o homem da Globo em Nova York, foi consagrado pelo pastor como parceiro na defesa das liberdades.

Pontual é um dos grandes reaças do jornalismo brasileiro, com posições quase sempre alinhadas com os pontos de vista dos poderosos. Mas será que merece essa crueldade?

Malafaia gritou, enquanto atacava Alexandre de Moraes como o ‘ditador da toga’, na aglomeração fracassada de domingo no Rio:

“Jornalista internacional da Globo disse alto e bom som: ‘Fico admirado de ver jornalistas apoiando a censura’. Ele (Pontual) vai dizer uma pérola. Nenhuma autoridade tem o poder de dizer o que é verdade, mentira, fake news ou não nas redes sociais”.

Não se sabe se Pontual disse mesmo essa pérola, mas pode errar quem duvidar da fala do pastor. Em novembro do ano passado, no programa Em Pauta, na GloboNews, o jornalista defendeu que Israel tem o direito de atacar ambulâncias em Gaza para matar combatentes do Hamas. Isso foi o que ele disse:

“Israel já tinha avisado que, se tivesse gente do Hamas nessas ambulâncias, atacaria. E não deu outra. Se eles estavam na ambulância, infelizmente era isso que Israel tinha que fazer. Alvejar esses seus inimigos. Agora, era uma ambulância, e morreram pessoas que estavam perto e que não eram do Hamas. Isso é um exemplo de como é complicada essa situação”.

Com a situação complicada, sendo atacado por todos os lados, mas protegido, não na ambulância, mas no bunker da Globo, o sujeito se retratou no Instagram:

“Ao comentar o ataque a uma ambulância na Faixa de Gaza, minha intenção foi a de dar a versão de Israel. Admito que não fui feliz, pois a muitos pareceu um endosso. Isso seria impossível, ninguém tem informações seguras sobre o que lá se passa. De certo, apenas um fato: os palestinos de Gaza vivem uma tragédia, com muitas perdas civis, que lamento profundamente. Peço desculpas por não ter deixado isso claro”.

E assim ficou. Um reaça ataca, espera as reações de quem aplaude o que diz e depois, diante das críticas de quem não concorda, pede desculpas. A direita, e mais ainda a extremada, usa muito essa tática de se desculpar por uma ‘declaração infeliz’.

Foi assim, agindo como censores, e não apenas como discordantes, que a jornalista Leilane Neubarth e seu colega Fernando Gabeira, ambos da mesma facção de Pontual, calaram Daniela Lima na GloboNews, só porque ela citou Lula como um dos perseguidos pelo lavajatismo.

Liberdade de expressão, mas não para citar Lula como caçado pelos justiceiros de Curitiba. Jorge Pontual, Leilane Neubarth e Fernando Gabeira são do mesmo time.

Além de Pontual, também Gabeira e Leilane poderiam ter sido citados por Malafaia como jornalistas que ele respeita. E podem ser incluídos Merval Pereira, JR Guzzo, William Waack, Eliane Cantanhede, Carlos Alberto Sardenberg.

A lista é grande. O pastor deve ter deixado muita gente com inveja do homem da Globo em Nova York. A liberdade de expressão da extrema direita, que muitos deles tratam como absoluta, só existe por causa da cumplicidade de gente com a índole de Gabeira, Leilane, Pontual, Guzzo e outros que aplaudem ou passam pano para o bolsonarismo, mesmo que a Globo seja inimiga dos Bolsonaros.

A Globo é a inimiga, mas eles não são e sofrem muito diante desse dilema de serem mais reacionários do que os patrões.