Mitchell

Fumando, sempre fumando. É como me lembro da figura do repórter José Mitchell. E pode ser que ele tenha se lembrado de mim esse tempo todo também como fumante.
É que eu só encontrava o Mitchell em algum evento. Eu e ele arranjávamos sempre um jeito de fumar em algum canto. E ele fumava mais do que eu.
Essa é a imagem afetiva que tenho do Mitchell, com quem me encontrava apenas nessas coberturas. Em 2001, no Fórum Social Mundial, cobrimos a palestra de Eduardo Galeano na PUC.
Duas vezes, ao caso, nos encontramos no pátio para fumar. Ele me disse: se continuarmos fumando desse jeito, podemos perder o momento em que o Galeano anunciará a revolução.
Pois Mitchell morreu ontem, um ano depois de Galeano. Sempre foi repórter. Um baita repórter, que fumava sem parar, como se a fumaça fosse o aditivo para sua escrita.
Como eu já voltei a acreditar em certas coisas, peço ao Mitchell que, onde estiver, já vá arranjando um canto pra gente fumar, quando se reencontrar, os cigarros que nunca mais nos farão mal.

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