NÚMEROS NÃO BASTAM NO SEGUNDO TURNO

Os números favorecem Lula, principalmente se não se movimentarem muito. Números quase estáticos asseguram que, sem grandes mexidas, Lula vence no segundo turno.

Mas números se mexem, e a hora é de falar de sentimentos ao lado dos números. Os sentimentos que mobilizaram as esquerdas nos últimos meses terão de ser multiplicados.

Uma pergunta: PT e forças de esquerdas foram capazes de transferir para as ruas, como apelo eleitoral, o que sentiam desde a libertação de Lula do cárcere de Curitiba? Talvez não. Possivelmente não.

A vitalidade de Lula enganou a todos, no sentido de que essa sempre foi superior ao vigor dos que o rodeavam.

Nem Anitta, nem Alckmin, nem Caetano Veloso, nem mesmo Armínio Fraga funcionaram como se esperava que funcionassem.

O PT alargou apoios entre celebridades, da economia ao entretenimento, mas isso já não basta.

As esquerdas entregaram toda a responsabilidade ao povão e ao Nordeste. Não captaram, por desprezo, os sentimentos dos evangélicos, nem da classe média conservadora que Armínio buscava sensibilizar.

Subestimaram a força bolsonarista no Sudeste e no Sul. Não compreenderam que a direita pode ter decidido que Bolsonaro é o que basta, e que a maioria não quer saber da fofura de Simone Tebet, de Rodrigo Garcia ou de Eduardo Leite.

A velha direita ficou viciada em bolsonarismo e quer conhaque forte. A eleição da bancada recorde de 99 deputados do PL é a prova.
Como foram as eleições de Mourão, do astronauta Pontes e de Magno Malta para o Senado.

Se não fosse o Nordeste e sua fidelidade a Lula, o desastre teria sido avassalador. Não é pessimismo, é o que a eleição nos mostra.

E agora, para que os números funcionem a favor de Lula no segundo turno, é a hora do sentimento se expandir em direção a quem decide.

PT e esquerdas e boa parte do centro, como aliados contra o fascismo, com o reforço decisivo de Simone Tebet, terão de dizer que acreditam na vitória de Lula.

O que não foi feito no primeiro turno terá de acontecer no segundo. O PT terá de informar que está cotidianamente nas ruas onde a direita esteve, como aconteceu em Porto Alegre e São Paulo e talvez na maioria das cidades.

Por que, por exemplo, a presença do PT, com os novos banners e bandeiras de canteiros, sumiu das avenidas?

Por que não havia nada com o rosto de Lula? Nem a toalha. Por que a campanha dos candidatos às eleições proporcionais não apareceu como deveria?

Ah, sim, vão dizer que toda a bancada gaúcha na Câmara foi reeleita, e com acréscimos. Vão dizer que Edegar Pretto chegou perto do segundo turno ao Piratini e que o PT aumentou a bancada em Brasília.

Mas faltou PT nas ruas, faltou sentimento. Faltou a transmissão de um otimismo que pode ter sobrado nas redes.

Esse sentimento terá de ser resgatado até 30 de outubro, como presença ostensiva, analógica, à moda antiga, e não só na internet.

A certeza de vitória não poderá ser só digital. O PT terá de ocupar seus espaços nas cidades, para que o sentimento de otimismo se faça presente.

Terá de conversar com os evangélicos, com o centro que torce pela democracia, com a classe média que não pode ser tentada a caminhar ainda mais na direção de Bolsonaro.

É o sentimento que dará verdade aos números, e não o contrário. Os números se afirmarão como expressão da vontade de vencer e de transmitir essa vontade ao eleitor.

Sentimentos não se submetem a ordens e a imposições da racionalidade da política. Mas são acionados por movimentos que possam gerá-los.

O segundo turno é obrigado a ter nas ruas o sentimento que o primeiro não teve.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Website Protected by Spam Master


9 + 1 =