O texto foge do título
A Folha online fez um esforço danado e saiu a ouvir gente da esquerda hoje, para que alguém falasse mal de Lula. Não conseguiu. O título da reportagem era assim: “Lula sofre ‘nova leva’ de desencanto na esquerda com delações da Odebrecht”.
Como não conseguiram ninguém da ‘nova leva’ que falasse mal de Lula e se deram conta de que o texto não segurava o título, trocaram depois a chamada para: “Em defesa de Lula, Bresser pede anistia a caixa dois e ‘presentes’”.
O jornal ouviu Frei Beto, Bresser Pereira, Luiz Gonzaga Belluzzo, Maria Rita Kehl e Zé de Abreu. Nenhum deles ataca Lula. Todos defendem Lula, e apenas Maria Rita parece meio reticente. A pauta furou, mas o título inicial, que estava pronto, foi mantido por quase todo o dia.
Bresser comenta a história de que Lula teria à sua disposição, doados pela Odebrecht, R$ 40 milhões para fazer o que bem entendesse. “Não faz sentido”, diz o ex-ministro.
A história dos R$ 40 milhões que ninguém sabe onde estão é absurda. Como tantos já disseram: enquanto os tucanos depositavam a propina em contas na Suíça, Lula enterrava o dinheiro no pátio do famoso sítio de Atibaia, em uma cápsula do tempo, para poder desfrutar da fortuna daqui a alguns anos.
Nem as emas do Jaburu acreditam na história dos R$ 40 milhões. Mas a classe média de direita que acredita nessas coisas é a mesma que acreditou que o golpe seria um grande negócio…
É que houve uma inversão no processo produtivo dos jornalistas da grande imprensa. Antigamente, ou pelo menos assim se ensinava nas escolas de jornalismo, tinha-se uma idéia e saía-se para ver se ela era confirmada ou não. Se não era confirmada, a pauta caía. Hoje não, não se tem uma vaga ideia do cenário, se tem uma tese. E a missão não é sair para verificar o panorama, é sair e entrevistar só quem eles acham que confirmará a tese. Se não confirmarem, pelo menos no título vai ter que constar a tese. Torça-se o fato até que ele caiba na cabeça do editor. Amém.