OS PEDIDOS DE DESCULPAS DA EXTREMA DIREITA E DOS PODEROSOS

No vídeo em que reage aos ataques racistas dos espanhóis, Vinicius Júnior aborda um clássico incômodo dos ofendidos diante do cinismo dos agressores.

O jogador do Real Madrid lembra que, depois das agressões, “o roteiro sempre termina com um pedido de desculpas” ou com aquela história do “fui mal interpretado”.

Um negro atacado por racistas sabe que pedidos de desculpas são atitudes protocolares, recomendadas por assessores, para que o assunto seja esquecido.

Um racista não deixa de ser racista por pedir desculpas. Ele apenas finge recuar, num caso específico, para que possa continuar sendo racista e evitar problemas com o público, o Ministério Público e a Justiça.

Temos agora, na mesma linha, a confissão da empresária ruralista bolsonarista baiana Roseli Vitória Martelli D’Agostini Lins de que errou ao gravar um vídeo pedindo a colegas do agronegócio que demitissem “sem dó” empregados lulistas.

Roseli foi obrigada pelo Ministério Público a se retratar. Assim, livra-se de processo, sem deixar de ser o que é.

Esse é o texto da retratação. Significa apenas que ela se viu obrigada a dizer o que o MP determinou que ela dissesse:

“Venho a público para me retratar e pedir desculpas a toda sociedade brasileira por ter orientado, através de um vídeo, empresários do agro a demitir pessoas que fossem votar em determinados candidatos nas eleições gerais deste ano. Assédio eleitoral é crime e nenhum empregador, seja ele do agro ou de qualquer outro setor, tem o direito de intervir no voto de seus empregados. Também não é admissível que uma entidade de classe oriente seus associados a votar ou não votar em determinado candidato”, declarou a empresária. O trabalhador que se sentir coagido a votar ou deixar de votar deve denunciar o caso ao Ministério Público do Trabalho. E o empregador que cometer essa ilegalidade deverá responder judicialmente por esse ato. O voto é livre. Pela compreensão de todos, muito obrigado”.

O texto deixa claro: assédio eleitoral é crime. Mas se houver acordo, o crime deixa de existir e é trocado por uma nota que não repara o dano provocado.

Poderosos impunes são os reis dos pedidos de desculpas. E os pobres, negros, gays, índios? Para esses, a punição do sistema de Justiça, por qualquer delito, é sempre outra.