ASSASSINATO DE GENIVALDO ATRAPALHA O PLANO DE BOLSONARO

Bolsonaro tem uma frustração que nunca irá superar. O sujeito não tem uma guarda nacional ostensiva, uma guarda federal, como existem em quase todos os países da América do Sul, para dar suporte ao seu blefe do golpe.

Bolsonaro não tem algo que pelo menos imite a mais aterrorizante guarda nacional, os Carabineiros chilenos, que nas mais recentes atrocidades, em 2019, caçaram, mataram e também cegaram ou sequelaram a visão de 400 jovens com tiros de bala de borracha.

Bolsonaro não tem a Guarda Nacional boliviana, que se amotinou e acionou o golpe contra Evo Morales, também em 2019, e depois participou de mais de 30 assassinatos.

Por isso em algum momento terá de ser investigada a intenção de Bolsonaro de transformar a Polícia Rodoviária Federal na sua guarda nacional. Há mais do que indícios de que esse é ou era um plano da extrema direita.

O caso de Genivaldo de Jesus Santos abala o projeto, que poderia ser apenas uma gambiarra típica do bolsonarismo, considerando-se a forma como já vinha sendo levado adiante.

A PRF atuou em ações que não são da sua atribuição principal, como na chacina da Vila Cruzeiro, no Rio, sob o argumento de que tem a prerrogativa de ser força auxiliar nesses casos.

Bolsonaro deu visibilidade à PRF, em suas performances nas motociatas e em todas as atividades de estrada em que buscava interagir com os policiais e até dirigia infantilmente uma viatura.

Na cabeça de Bolsonaro, a PRF poderia vir a ser a sua guarda de confiança, sob seu controle, com aumento de verbas, mimos e manifestações de apreço, como o anunciado plano de equiparar carreiras da corporação às da Polícia Federal.

Como não pode interferir diretamente nas PMs, que são geridas pelos governadores, mesmo que sejam forças à disposição do Exército, o sujeito teve a ideia de reforçar publicamente que a PRF é sua polícia preferida, com o pretexto de que é força auxiliar na repressão ao crime.

Muitas das atividades ditas complementares da PRF, como essa força que ajuda outras polícias, são remendos formalizados por atos de Bolsonaro, um desses com a assinatura de Sergio Moro.

Genivaldo, sem capacete, caiu nas garras de gente que vem sendo treinada e incentivada pelo governo a ser violenta, sob as ordens de Bolsonaro.

As investigações terão de passar pelas provas de que a violência era exercida com método. Havia uma linha a ser seguida pela PRF, desde os cursos de formação dos servidores.

A violência é parte desse aprendizado, com o entusiasmado ensinamento de ‘técnicas’ de imobilização de detidos com gases de ‘efeito moral’.

Bolsonaro vinha empurrando a PRF para o confronto fora das rodovias federais e habilitando policiais rodoviários para a repressão violenta contra pobres e negros de morros e periferias.

O próximo passo é mais do que previsível: dar à PRF suporte de homens, recursos e lastro político para que seja uma imitação grosseira das policiais nacionais dos vizinhos, com força numérica, presença ostensiva e protagonismo.

Exemplos recentes não ajudam muito. No Chile, o site de jornalismo do Centro de Investigação Periodística (Ciper) teve acesso a documentos secretos sobre a arapongagem dos Carabineiros em 2019. São ações e relatórios que expõem um vexame.

A polícia investigava cubanos e venezuelanos, porque estariam agindo como infiltrados e seriam os responsáveis pelas manifestações que levaram milhões de jovens às ruas e acabaram com a direita chilena.

O mesmo Ciper, que funciona como um núcleo de jornalistas cooperativados, descobriu que 112 carabineiros foram denunciados e processados por envolvimento com tráfico de drogas nos últimos anos.

Outros davam cobertura a quadrilhas de assaltantes e até manipulavam dados estatísticos sobre ações violentas em que se envolviam. A nova Constituição chilena deve tirar poder dos Carabineiros.

Na Bolívia, todo o comando da Polícia Nacional e alguns subalternos foram presos no ano passado por participação nos motins que provocaram o golpe de 2019 e, depois, em casos de corrupção no governo golpista. Eram covardes sem condições de levar o golpe adiante.

Mas tanto no Chile quanto na Bolívia essas descobertas só foram possíveis porque a extrema direita está na sarjeta, para onde foi jogada pelo voto. No Brasil, espera-se que o fim de Bolsonaro leve a descobertas semelhantes.

O assassinato de Genivaldo pode conduzir ao desvendamento das estruturas de comando de ações violentas e arbitrariedades na maioria das vezes encobertas.

Mas as investigações completas somente acontecerão quando Lula estiver no poder e as instituições tiverem, sem a ameaça de militares e milicianos, a segurança de que podem fazer o que deve ser feito.

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