AINDA FALTA REVIRAR OS MONTUROS DA CLOROQUINA

Até as emas do Alegrete, e não só as do Alvorada, sabem que Bolsonaro recomendava e tentava impor a cloroquina como tratamento precoce. Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich não informaram nada que alguém não saiba na CPI do Genocídio.

Mandetta e Teich podem dizer que saíram porque não avalizavam tratamento com cloroquina. Podem assegurar que Bolsonaro até pressionava para que mudassem a bula.

Podem dizer que Carluxo fazia lobby pela cloroquina. Que os laboratórios estavam dentro do Palácio do Planalto vendendo o medicamento. Que Bolsonaro e subalternos encontravam-se em reuniões efusivas com os fabricantes de cloroquina.

Não há nesses relatos nem mesmo novos detalhes incriminadores. A novidade seria a descoberta do que ainda está escondido na obsessão de Bolsonaro com a cloroquina.

A primeira hipótese levantada lá no começo já não tem valor algum. É a de que Bolsonaro tentava produzir um milagre. Se desse certo, seria o cara que salvou o mundo.

Mas a partir de um determinado momento ficou claro que a cloroquina não funcionava contra a Covid-19. E que, além de não funcionar como tratamento precoce ou mesmo para combater depois os efeitos do coronavírus, também poderia matar.

Mas Bolsonaro continuou insistindo e mandou o Exército produzir milhões de comprimidos. Para quê? Apenas para ofuscar a vacina de João Doria?

A insistência de grupos de médicos com o uso da cloroquina pode indicar desprezo pela ciência e ignorância. Pode sugerir também que profissionais negacionistas enfrentam com a cloroquina seus “inimigos” de esquerda em cidades pequenas. Esse duelo paroquial existe em todo o Brasil.

Mas e os donos de hospitais e clínicas privadas que passaram a impor aos seus médicos a prescrição da cloroquina aos internados?

O que os donos de clínicas ganham com isso, além de correr o risco de matar os próprios pacientes e tensionar e dividir as equipes? A cumplicidade com Bolsonaro? Pra quê?

Há muitas coisas ainda não bem contadas sobre a cloroquina. É antiga a tese de que o esquema todo foi montado para que os laboratórios ganhem muito dinheiro.

Essa pode ser uma parte da verdade. Bolsonaro faz movimentos aparentemente erráticos com as obsessões por cloroquina e por armas.

Incentivou o armamentismo, fez uma interlocução intensa com a Taurus e logo depois abriu o mercado ao armamento importado, com imposto zero.

Por que, se a indústria nacional poderia dar conta da demanda e ser beneficiada pela previsível corrida de compradores de armas?

No que Bolsonaro e a Taurus se desentenderam a ponto de o sujeito escancarar o mercado, ao invés de proteger um parceiro financiador de campanhas de políticos do bolsonarismo?

Por que, no caso da cloroquina, logo depois de passar a liderar o marketing do remédio milagroso, Bolsonaro decidiu enfiar o laboratório Exército na encrenca? Por que o Exército, se o Brasil tem seis laboratórios em condições de atender a demanda?

Por que Bolsonaro não deixou tudo por conta da indústria amiga? Há uma hipótese. O Exército foi usado apenas como laranja, para que Bolsonaro ficasse mais à vontade como propagandista da cloroquina.

A mensagem seria essa: podem tomar à vontade, porque, além dos laboratórios privados, o Exército também fabrica a droga. Ou o Exército entrou no negócio porque Bolsonaro se desentendeu com os laboratórios?

Tem cloroquina encalhada em depósitos da saúde pública de todos os Estados. O jornal Zero Hora, de Porto Alegre, mostrou que desde fevereiro o povo não quer saber da cloroquina oferecida em postos de saúde como tratamento precoce.

A CPI pode concluir o que todos sabemos, que a propaganda de Bolsonaro e de seus aliados transformou a cloroquina no ouro que enriqueceu alguns laboratórios. Mas só os laboratórios?

Até as emas querem saber. Que história é essa da cloroquina? As emas não são tão bobas para entrarem na conversa de que se trata apenas da obsessão preferida de Bolsonaro.

One thought on “AINDA FALTA REVIRAR OS MONTUROS DA CLOROQUINA

  1. E dentro das forças armadas, não trabalhariam médicos especialistas que acompanham todas as pesquisas no campo do tratamento da pandemia para contestar o uso dos remédios milagrosos e, mais importante, para impedir a fabricação deles?
    Parece que a cpi vai ter de convocar outros militares, além do general fujão.

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