AOS CRETINOS QUE ME PEDEM PARA SER “NEUTRO”
Nunca li textos de militantes, líderes ou pensadores do Hamas ou do Hezbollah para procurar entender o massacre de palestinos por Israel. Sei que não preciso desse tipo de leitura.
Já li muito sobre a história e a atual situação dos palestinos. Mas há anos leio autores judeus. Não apenas israelenses, mas judeus mesmo. E não aceito, nunca aceitei, conversas bíblicas que tentem explicar expansionismos e matanças.
Não leio mais pregadores esquerdistas, nem antissemitas e nem antissionistas. Não leio nada que possa me oferecer o que eu já não saiba há muito tempo.
Leio autores que poderiam apenas estar do outro lado e que refletem sobre os horrores da situação imposta pelo fascismo de Israel. E que são judeus.
Leio judeus falando de judeus tomados por posições irredutíveis e absolutistas. Eu leio David Grossman, autor do monumental “A mulher foge” (Companhia das Letras), que perdeu um filho nessa guerra e se mantém cada vez mais lúcido.
Leio coisas como esse trecho de uma das tantas entrevistas de Grossman:
“Nos artigos políticos que escrevo, tento insistir nas nuances para lembrar que há outra forma de enxergar essa situação e que, como exercício mental, também temos de ver nosso conflito com o olhar de nosso inimigo, porque é o inimigo que vê em nós coisas que preferimos não ver. Não queremos saber quais são os processos destrutivos pelos quais passamos. E dizemos que todos os defeitos dos guerreiros, dos invasores, são coisas que adquirimos apenas durante a guerra. Mas talvez o inimigo veja antes de nós até que ponto esses defeitos do guerreiro, do invasor, se infiltraram em nossos órgãos internos”.
Não vou citar outros autores que li e leio para não fazer listas pretensiosas. É só chamar no Google. Leio os mais variados argumentos, com abordagens que vão do vitimismo ao belicismo e ao cinismo.
E só publico esse trecho de Grossman para que conhecidos que dizem ser meus amigos parem de pedir que eu não escreva mais contra a violência de Israel e o massacre de crianças e mulheres.
Um desses conselheiros me disse que talvez eu não esteja habilitado para tomar uma posição. Me chamou de ignorante, porque ele é bem informado.
E outro me recomendou que eu ficasse ‘neutro, como se isso fizesse sentido. Ser ‘neutro’ e silencioso, porque, dizem eles, essa é uma guerra dos outros.
O argumento básico e repetitivo é o de que qualquer crítica aos crimes dos dirigentes israelenses caracteriza antissemitismo.
É reducionista e cansativo. Peço apenas que eles publiquem o que pensam, que tenham a coragem de expor posições, antes de perder tempo com aconselhamentos desrespeitosos.
Que sejam mais valentes na defesa dos seus pontos de vista e desistam de tentar ser conselheiros. Eu não tomo posição para influenciar ninguém, mas para dizer o que penso.
Aos cretinos vendedores de conselhos, eu ofereço esse, de graça: vão encher o saco dos neutros adoradores do fascismo de Bolsonaro e do seu amigo Benjamin Netanyahu.
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OS CHILENOS
A principal revelação da eleição dos constituintes chilenos é esta: os partidos, mesmo os de esquerda, terão de entender por que a maioria de eleitos é de candidatos independentes.
Eram 155 cadeiras em disputa. Os candidatos independentes elegeram 65 membros (42% do total). Partidos de esquerda ficaram com 53 assentos (34%). E os partidos governistas, ligados a Sebatián Piñera, ficaram com apenas 37 cadeiras (24%).
A direita foi massacrada. Mas é interessante o fenômeno de candidatos sem vínculos com partidos, incluindo muitas mulheres e
indígenas.
O que permite uma pergunta: como seria no Brasil (aqui não há candidato avulso em eleições), onde tudo é feito com base em campanhas caras e sustentadas pela política formal?
Outra observação presente em todas as análises: os chilenos, que foram menos às urnas do que quando do plebiscito para realização da eleição para a Constituinte, parecem ter chegado à exaustão da ação política, dos protestos, dos jovens que perderam um olho com os tiros dos caribioneiros e da capacidade de resistência de Piñera.
O bom é que a direita perdeu não só na composição da Constituinte, mas também nas eleições para governadores, prefeitos e vereadores.
E a nova prefeita de Santiago é a comunista Iraci Hassler, que derrotou o direitista (e candidato à reeleição) Felipe Alessandri.
A nova Constituição, que irá substituir a que vigora desde Pinochet, deve ser escrita em um ano. Por jovens, mulheres e índios.
Uma Constituinte no Brasil hoje elegeria gente da bala, da Bíblia, da grilagem de terras, dos bancos e da boiada.
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HUMOR
MOISÉS, SIMPLESMENTE magistral!!! Tô contigo!!!
Grande Moises Mendes!
Parabéns por trazer a situação dos palestinos à baila.
Sobre Israel x Palestina, não esqueçamos que o muro é do diabo. E se me permite uma sugestão de leitura: Eu Vi Ramallah, de Mourid Barghouti Ed. Casa Da Palavra.
Parabéns aos chilenos.
Há generais da ativa, da reserva e o Pazzuelo, que é da Activia.
Saudações.
“nEUTRO É DETERGENTE. sOMOS CONIVENTES”, COMO LI OUTRO DIA NA BANDA INTELIGENTE DA iNTERNET. sERVE TANTO AO CONFLITO CRUEL NO oRIENTE mÉDIO QUANTO À ESTUPIDEZ NO bRASIL. e VIVA AS MULHERES CHILENAS E OS HOMENS CHILENOS, QUE NA aSSEMBLÉIA cONSTITUINTE AGORA TÊM O MESMO TAMANHO, SÃO IGUAIS. sERVEM-NOS DE EXEMPLO E NOS CAUSAM INVEJA.