Dallagnol complica a vida de Sergio Moro

As pessoas comuns – eu, o senhor, a senhora, nossos amigos, parentes e vizinhos – tiveram, antes dos juristas, a percepção de que a sustentação da denúncia contra Lula era tecnicamente capenga.

Muita coisa nos dizia que aquela rosácea no PowerPoint, com o nome de Lula ao centro, não era capaz de segurar sozinha a conversa. Os procuradores produziram um show na tentativa de enganar incautos e acobertar a fragilidade de argumentos.

É o que vem dizendo sobre a denúncia a maioria dos especialistas em Direito ouvidos por jornalistas.

O Ministério Público Federal de Curitiba jogou para uma plateia que considera imbecilizada, e não para quem entende do assunto. O resultado é que o MP, empolgado com a torcida, vai entregar um produto bichado ao juiz Sergio Moro e obrigar a turma de Curitiba (incluindo o próprio MP e o Judiciário) a se recuperar do mico.

Como? O jurista Lenio Streck deu uma entrevista ao UOL com clareza e sínteses fantásticas. Uma das questões postas por Streck é exatamente esta: se a denúncia contra Lula não prosperar, pela fragilidade das provas, o que pode acontecer com a Lava-Jato?

Eis a questão. Lula seria o grande troféu da operação. Mas o procurador-chefe da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, cometeu o erro (quem fala agora sou eu) que Sergio Moro já havia cometido quando da tal condução coercitiva de Lula. A obsessão e pressa para pegar Lula e mais a soberba derrubaram os dois, e agora um pode cair sobre o outro.

Dallagnol apresentou Lula como comandante da máfia da Lava-Jato, mas não o denunciou formalmente por tal comando, como observa Streck. Por quê? Porque não tem café no bule. O procurador apresenta tal dado apenas como elemento da teatralidade, mas erra em quase tudo, desde o conteúdo ao tom exaltado do discurso.

Streck aponta outro erro de Dallagnol, talvez o pior de todos, no conjunto de intenções desastradas. O procurador exacerba na abordagem da questão moral. E a moral, como ressalta Streck, não pode nesses casos embaralhar o Direito.

Como se interroga Streck, “quem vai nos proteger da moral?” Eu me atrevo a acrescentar: quem vai nos proteger da moral e do fervor religioso-justiceiro de Deltan Dallagnol, Sergio Moro e seus companheiros de Lava-Jato?

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