Estadão, o jornal das fake news, viu tiroteio na Barra da Tijuca

Título da coluna de Eliane Cantanhêde no Estadão:

“Todos sobrevivem na crise entre Poderes; em tiroteios, quantos mais vão morrer?”

A colunista sugere que a ação de milicianos contra um grupo de médicos foi um tiroteio. E compara as consequências do ataque dos bandidos aos danos de uma ‘crise’ entre instituições.

Primeiro, é claro que não houve tiroteio, que só haveria com dois lados em confronto. Segundo, a crise é na verdade o cerco da direita e dos milicianos do Congresso e da imprensa a Alexandre de Moraes e ao Supremo.

A tentativa de confrontar ou aproximar as duas situações é um esforço que só estagiários muito desastrados cometeriam. É rasa e não ajuda na compreensão dos dois casos.

É o método de Bolsonaro de comparar qualquer impasse na política a namoro, casamento e divórcio.

A única analogia possível seria a de que os dois casos usados como exemplos envolvem milícias.

Mas o Estadão anda cada vez mais para a extrema direita mesmo. A campanha do jornal por Javier Milei na Argentina é uma das coisas mais constrangedoras do jornalismo brasileiro.

Os Mesquita que já se foram, e que um dia cometerem o mesmo erro aqui e recuaram, não iriam aceitar.

Por que torcer por um fascista que exalta a ditadura e os torturadores e ofende a memória de mortos e desaparecidos?

Por que insistir na fake news de que Lula trabalha para eleger Sergio Massa, se o jornal não consegue provar essas ‘manobras’?

Tudo que o Estadão publica contra Lula é compartilhado por Milei nas redes sociais. O Estadão parece mais um jornal da direita argentina.

Por que não compreender, no contexto da América Latina mais uma vez conturbada, que o Brasil deve estar ao lado de quem ainda resiste pela democracia e não de um alucinado?

O Estadão poderia estar com Patricia Bullrich, a candidata da velha direita, aliada do macrismo, mas prefere estar com a aberração Javier Milei.

E a explicação é bem simples. O próprio Mauricio Macri já abandonou a candidata dele e se bandeou para o lado do fascistão.

Vai ficando claro que essa será também a opção do El Clarín e do La Nación, os equivalentes na Argentina ao Globo, ao Estadão e à Folha.

O Estadão está fazendo o jogo dos parceiros da imprensa de direita, que apostam na vitória de Milei para combater o kirchnerismo. Como aqui os jornalões apostaram em Bolsonaro, no desespero para vencer Lula em 2018.

Aqui, a grande imprensa achou que elegeria Bolsonaro e depois daria um jeito de controlar o cara. Não deu. Foi derrotada por Bolsonaro, aliou-se aos militares e se acovardou. Mas teve Paulo Guedes como preposto do empresariado no governo.

Lá, Nación e Clarín devem pensar a mesma coisa. Elegem Milei e arrumam um Paulo Guedes para que os interesses da elite se acomodem. Lá talvez não funcione, porque Milei é economista e se considera gênio.

O Estadão pode estar fazendo por um militante fascista e admirador da ditadura o que fez no começo do golpe de 64 aqui, para depois se arrepender e tentar limpar a imagem. Limpou só a superfície.

(Uma observação importante. No fim da manhã, o Estadão tirou da capa a coluna que compara briga política com massacre na Barra da Tijuca.

E escondeu o título citado lá no início do texto, que foi transformado no que chamam no jornalismo de linha de apoio ou linha fina.

Ficou assim:

“O plano de segurança do governo e os projetos do Congresso contra o STF: as montanhas pariram ratos

Na crise entre poderes, todos sobrevivem. Em tiroteios reais, quantos mais vão morrer?”)

E agora para concluir. Qualquer curso de jornalismo, no básico, no elementar, pede que os estudantes não usam mais essa da montanha que pariu ratos. Mas o Estadão usa. O Estadão ainda usa ratos e usa até ponto e vírgula em títulos. O ponto e vírgula estava no título original da citada coluna e desapareceu depois na versão melhorada.

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