Fábrica de delatores
Uma frase do juiz Sergio Moro, dita em palestra ontem em Nova York: “A Justiça funciona quando o inocente vai para casa e o culpado vai para a prisão”.
A frase parece grandiosa, carregada de douta eloquência, mas é apenas uma obviedade acaciana dita como platitude. Um estudante das primeiras séries poderia dizer essa frase.
Só que a maioria dos culpados da Lava-Jato que passam por Sergio Moro vai para casa. Bandidos miúdos e graúdos, desde que decidam delatar os parceiros.
Se delatam, escapam da masmorra da prisão preventiva que mantém corruptos e corruptores presos por quase um ano.
Delator nas mãos de Sergio Moro escapa da cadeia. Moro diz que faz o que manda a lei. É a sua tática desde o início da Lava-Jato. Forçar a delação e libertar o delator, de acordo, claro, com a lei.
A tática de Moro, portanto, ao contrário do que ele diz, não leva condenados para a cadeia. O que Moro deseja é ir juntando delatores para chegar a outros delatados e para que esses delatados também virem delatores.
Já foram soltos (ou nem chegaram a ser presos) os delatores Pedro Barusco, o mais famoso deles, Paulo Roberto Costa, Nelma Kodama, Fernando Moura, Dalton Avancini, Milton Pacowitch, Mario Goes, Ricardo Pessoa, Pedro Correa, Otavio Marques de Azevedo, Nestor Cerveró e pelo mais outros 40.
No fim, a obsessão de Moro é produzir delatores. Para que recebam penas brandas e voltem para suas casas, com raríssimas exceções (o doleiro Youssef é uma delas, porque é reincidente em delação). Barusco voltou para sua casinha em Angra.
Moro tem em Curitiba uma fábrica de delatores. Só continuará preso preventivamente, será condenado a altas penas e cumprirá cadeia quem não delatar.
Mas, pela tática de Sergio Moro, poucos resistem. Moro é o juiz que fica satisfeito com a delação. Sua palestra em Nova York, sobre condenados que vão para a cadeia, deve servir para outros juízes menos apegados ao subterfúgio da delação.
