Haverá história para contar sobre os que fabricam a Kombi de R$ 200 mil?

A controvérsia em torno da propaganda da Kombi inspira outras conversas. Quem não viu poderia ver agora o documentário Peões, de Eduardo Coutinho, sobre os tempos da velha Kombi pilotada por uma Elis produzida pela inteligência artificial.

O filme ajuda a entender o que as montadoras significaram para o Brasil e para a vida de milhares de brasileiros. É de 2004, mas ainda está vivo como documento e pode ser visto na Globoplay.

É sobre o povo das greves do ABC Paulista no final dos anos 70 e início dos 80, sobre a turma de Lula e sobre vidas e resistências construídas pelo trabalho nas fábricas do ABC.

No ano do lançamento do filme, Roger Lerina e eu conversamos em Porto Alegre, em entrevista para Zero Hora, com o cineasta João Moreira Salles, que no mesmo momento lançava Entreatos, sobre a campanha de Lula em 2002.

João nos disse que viu a primeira versão de Peões (ele e Coutinho eram grandes amigos) e que achou tudo errado. Sugeriu que Coutinho refizesse alguns trechos e reeditasse tudo.

Foi o que ele fez. E Peões virou um documentário que é muito mais do que a história dos metalúrgicos que brigaram por seus direitos e desafiaram a ditadura ao lado de Lula.

É sobre a formação do que viria a ser, também em outras áreas, o operário industrial brasileiro.

A classe média de fábrica e o sentimento de luta coletiva do operariado moderno surgem ali, levando ao sindicalismo de combate que também nos deu figuras do porte de Olívio Dutra.

O PT talvez não existisse ou fosse outra coisa sem o ABC Paulista. O filme conta o que as greves acabam gerando, a partir de mais de 20 depoimentos. É a luta de classes, companheiro.

O filme aborda a gestão autoritária das fábricas e distorções e repressões criadas pelo ambiente da ditadura, mas não entra no colaboracionismo direto da Volks com os milicos, porque essa é uma questão que só vai aparecer bem depois.

Peões é também melancólico, porque trata do começo do fim do chão de fábrica com aquelas feições.
Haverá um novo Lula gerado pelos conflitos criados em tempos de inteligência artificial?

Que histórias poderão ser contadas, se é que serão, envolvendo os que irão fabricar a Kombi elétrica de R$ 200 mil do século 21?

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