Não deixe chegar no Supremo

A frase do título desse artigo é a mais repetida pelo jornalismo há muitos dias. Não há nenhuma outra capaz de competir com a ordem que o então secretário de Segurança do Distrito Federal passou no 8 de janeiro ao seu segundo na pasta.

Anderson Torres estava nos Estados unidos, em férias antecipadas, e o delegado Fernando de Sousa Oliveira se virava como podia no meio dos terroristas em Brasília.

Dependendo de quem publica, a frase é definida como ordem, apelo ou recomendação. Também poderia ser classificada como grito desesperado.

Mas poderia ainda ter uma definição mais problemática. O que Torres poderia estar dizendo ao seu substituto é que o Congresso, o primeiro a ser invadido, e o Planalto, o segundo, estavam tomados e não havia o que fazer. Mas era preciso tentar conter os terroristas a caminho do Supremo.

Outra leitura possível da frase é esta. A prioridade não era tirar os invasores do Congresso e do Planalto, mas impedir que chegassem ao STF.

Mais uma interpretação possível. Torres diz ao seu segundo que a grande questão, desde o começo, é o Supremo, e que Congresso e Planalto nunca estiveram nas suas prioridades.

A mensagem é das 15h33min e apareceu na perícia que a Polícia Federal fez no celular de Oliveira.

O Congresso já havia sido foi invadido por volta das 14h45min. O Planalto seria invadido uns cinco minutos depois. O Supremo foi tomado logo na sequência.

Quando manda a mensagem, Torres deveria estar sabendo que o Planalto ainda não havia sido invadido, ou os seus subalternos o enganaram.

O Palácio do Planalto só vai ser invadido uns 20 minutos depois da mensagem disparada ao delegado Oliveira.

Uma hora e meia depois de enviar a mensagem em que falava só do Supremo (ou tentando dizer que Congresso e Planalto nem mereciam ser citados), Torres foi demitido pelo governador Ibaneis Rocha.

Por que falar disso agora? Porque há uma tentativa de manter a Fátima de Tubarão presa e os verdadeiros líderes do golpe soltos.

Essa história de que Torres manda proteger o Supremo não significa nada além do que está explicitado na mensagem: o delegado despreza o Congresso e o Planalto.

Se invadiram os dois, isso não importa. Nem mesmo que se considerasse naquele momento a possibilidade de expulsão dos invasores.

A versão da preocupação com o STF tem sido divulgada à exaustão, mas só complica a vida do delegado preso, que deve estar pensando: por que só eu de importante estou aqui no meio desses manés que nem sabiam o que era Supremo, Congresso e Planalto?

O secretário sabia e fez sua escolha sobre qual deveria ser protegido.

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