Os recados atrevidos de Campos Neto a Lula

Roberto Campos Neto não vai, mesmo cercado, pressionado e vaiado, deixar a presidência do Banco Central. Porque, diz ele mesmo, se deixasse, nada iria mudar.

A resposta previsível a uma pergunta inevitável, no final da entrevista ao Roda Viva, tem um componente só aparentemente sutil. Ele não sai e, se sair, tudo fica como está.

Este foi apenas um dos recados disparados pelo presidente do BC. São muitos. E todos contêm arrogância.

Campos Neto mandou dizer a Lula que, se for obrigado a sair, e mesmo que alguns diretores agora sejam novos e escolhidos, pelo que sabe, por consenso com Fernando Haddad, também eles irão pensar como ele pensa.

Se pedisse para sair ou ser saído, o que é difícil e quase improvável, mudariam o presidente do BC, mas o BC não mudaria, porque o banco estaria contagiado por suas ideias.

Campos Neto disse o que não precisa de resumo, nem síntese nem tradução: o BC pensa como eu penso e continuará pensando, com uma autonomia que independe do que o governo pensa.

A conversa mansa e cordial apenas embrulhou o tom pernóstico e egocêntrico do conteúdo das falas.

Quando perguntaram se ele conversou com Lula e se conversaria de novo (foram duas perguntas), Campos Neto respondeu que “está disponível” para explicar o que faz.

O verbo explicar foi repetido duas vezes. Ele quer conversar com Lula para falar da “agenda social do BC” e dizer que o banco precisa trabalhar junto com o governo “num ambiente colaborativo”.

E aí veio então o último recado, depois de dizer que não se deve mexer em meta de inflação. Esse foi o recado: ele gostaria de explicar a Lula “a política de juros e a razão pela qual nós temos juros altos”.

Campos Neto chamou o presidente para uma conversa, em convocação pública, porque sua missão é a de explicar a Lula por que “nós” temos juros altos. Na primeira pessoa do plural. Nós temos.

Se Lula ainda não entendeu, ele está disponível para essa explicação. É o gesto professoral que parte da imprensa viu como magnânimo, mas é arrogância absoluta.

O presidente eleito seria submetido às explicações do homem que, ao invés de dizer que deseja ouvir, diz que vai dar explicações.

Campos Neto quer dar uma aula de juros altos ao presidente da República, porque não há mais nada a ser feito a não ser compreender por que existem juros nessas alturas.

A resposta à primeira pergunta teve um detalhe com doses fortes de ironia, quando ele afirma que gostaria de conversar com Lula “principalmente sobre a agenda social do BC”, enfatizando logo a seguir que “a gente tem um fator comum”.

Campos Neto vai explicar a Lula por que os juros são altos, porque Lula ainda não entendeu, e compartilhar com o presidente sua agenda social como “fator” comum.

O Lula preocupado com a urgência das famílias famintas e com a matança de yanomamis, com o resgate do Minha Casa Minha Vida, com um plano de emergência para a vacinação de crianças, com um mutirão que salve o SUS, e Campos Neto aparece com sua agenda social do juro alto, citada cinco vezes.

O entrevistado deixou claro que o BC é um poder paralelo e assim será mantido. Pode conversar, pode interagir com o governo e levar adiante ações colaborativas, pode até fazer a concessão das explicações.

Mas ele não sai do BC, e se ele sair, nada muda. Campos Neto mandou dizer a Lula que aceitou o desafio para saber quem governa.

Bolsonaro perdeu a eleição, mas o neto de Bob Fields não perdeu o poder. É quase uma ameaça, um atrevimento capaz de espantar até uma Fátima de Tubarão.

4 thoughts on “Os recados atrevidos de Campos Neto a Lula

  1. Esse sujeito precisa ser defenestrado da coisa pública nacional! Parece que sua genealogia tem sido aprimorada em altivez, em arrogância, em empáfia, em egoísmo, enfim, se tornando o cume da soberba arianista!

  2. Não sei qual foi a ideia dos políticos quando decidiram dar a tal independência do BC. Que na verdade na existe. Existe independência do Legislativo, do Judiciário e do Executivo. O Bc não é um quarto poder como eles querem ser, está atrelada ao Min. da Economia. Então, nesta queda de braço do Bob Field com o lula, ele não tem a mínima chance. E ameaçar dizendo que se ele sair não muda nada, deve ter sido a gota d’água para o Lula decidir tirar o lacaio do Bolsonaro do cargo. basta alegar notória incompetência no cargo como motivo, pois ele desde que assumiu nunca conseguiu manter a inflação e o crescimento da economia sob controle, nem com juros baixos e nem com altos. Ou seja, é um incompetente na zaga e no ataque e não sabe jogar no meio de campo.

  3. não se preocupa com juros altos pq ele e pguedes ( um de seus padrinhos) tem off-shore.
    Querem que o pobre exploda feito uma granada.
    Tbm é chegado daquele senador que vendia chocolate e enriqueceu à pto de comprar mansão em BSB.

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