O jornalismo que vê ‘relações’ do PT com o Hamas é o mesmo acovardado diante das conexões de Bolsonaro com os nazistas

Ninguém irá ler uma linha, uma só, de militantes do jornalismo de direita das corporações sobre a provada relação do bolsonarismo com figuras e movimentos neonazistas. Não se ouvirá uma frase.

Mas esses mesmos militantes foram rápidos ao tentar conectar Lula, o PT e as esquerdas ao que classificam como a organização terrorista  Hamas.

Nunca houve, nem mesmo entre jornalistas judeus e seus descendentes, que militam nas tropas do ultraconservadorismo da grande imprensa, nenhuma reação ao fato de Bolsonaro aparecer ao lado de nazistas e ao mesmo tempo se dizer amigo de Israel.

Por covardia, ninguém diz nada. Porque era arriscado mexer com os interesses políticos e o poder econômico dos judeus brasileiros bacanas alinhados à extrema direita de Bolsonaro e de Netanyahu.

A farsa de que Bolsonaro ama Israel, enquanto tirava fotos ao lado de uma deputada alemã nazista e via seus seguidores fazerem saudações a Hitler, não é abordada pelos comentaristas militantes da direita e da extrema direita na TV e nos jornalões.

Há silêncio na grande imprensa com as informações, baseadas em evidências e estudos, e não em palpites, que fazem a conexão do bolsonarismo com o nazismo. Alguns jornais da mídia anti-Lula até noticiam, com cuidadosa isenção, nos cantinhos de páginas. Seus comentaristas nada comentam.

Mas, apenas para citar um exemplo recente, foi com rapidez que Mônica Waldvogel anunciou na GloboNews que havia “relação de parte do Partido dos Trabalhadores com esse grupo”, ao se referir ao Hamas.

Relação mesmo havia, de forma direta, incondicional e criminosa, de jornalistas da Globo com a extrema direita criminosa do lavajatismo. Como havia, de forma dissimulada (para que o patrão não soubesse), relação de jornalistas da mesma Globo com o golpismo bolsonarista.

Havia na Globo uma relação pública e explicitada de um jornalista com falas e ideias racistas. Tanto que um deles foi demitido por ter sido flagrado depreciando negros e logo arranjou outro emprego onde o racismo não parece ser crime nem questão moral a ser levada em conta.

Nunca esses jornalistas se preocuparam em dizer que Bolsonaro, próximo de judeus de extrema direita, ajudou a manipular ideias do judaísmo para limpar a imagem de simpatizante de práticas e de políticos nazistas. Os comentaristas enxergam conexões com ‘terroristas palestinos’, mas não conseguem enxergar vínculos da direita brasileira com os nazistas.

O professor, músico e pensador Jean Goldenbaum, do Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil, sabe do que estamos falando. Sabe muito antes de todos nós.

Goldenbaum publicou no Brasil 247, logo no início do governo Bolsonaro, um artigo em que contestava a tese do jornalista Guga Chacra, da mesma GloboNews, segundo a qual Bolsonaro era, acreditem, “genuinamente um defensor de Israel”.

Goldenbaum esclareceu: “Não, ele não é genuinamente defensor de Israel de maneira alguma. Ele é defensor e – em bom português – um grande puxa-saco do governo direitista de Netanyahu. E isso é completamente diferente de ser defensor de Israel”.

E Goldenbaum continua: “Ser defensor de Israel inclui reconhecer que os 20% da população árabe do país devem ter os mesmos direitos que a maioria judaica tem; inclui reconhecer que a paz e o entendimento com os palestinos da Cisjordânia e de Gaza são essenciais para toda a população israelense; e inclui compreender que Israel é uma terra progressista, plural, multicultural e deve continuar assim, e não se tornar o cenário irreal e fundamentalista que os cristãos neopentecostais idealizam e exigem”.

Vale a pena ler o encerramento do texto:

“Para concluir, um conselho a mais a Guga Chacra: ele afirma também que Bolsonaro “não pode ser tachado de antissemita” e que “não o considera antissemita”. Sugiro que deixe essas apreciações aos judeus. Afinal, uma pessoa que age como ele age, que reescreve a História dizendo que o Nazismo foi de Esquerda, que o Holocausto “não deve ser esquecido, mas deve ser perdoado”, é para muitas judias e judeus – incluindo eu – um grandíssimo antissemita”.

Mas quantos mais tiveram a coragem de Goldenbaum? Quantos dos jornalistas que agora acusam o PT de ser conivente com as ações do Hamas se dispuseram a enfrentar, com posições críticas, as conexões de Bolsonaro com ideias e políticos nazistas e com a proposta de que o Holocausto deve ser ‘perdoado’?

A mesma Mônica, que viu relação do PT com o Hamas (e um dia depois revisou o que disse, sem pedir desculpas), já afirmou na GloboNews, em junho de 2020, ao comentar a ameaça de processo do governo Bolsonaro contra o chargista Aroeira, por mostrar uma suástica ao lado do sujeito: “Há um abuso no uso de referência ao nazismo”.

A comentarista estava preocupada em cuidar da imagem de Bolsonaro. Havia, segundo ela, uma banalização de abordagens sobre o nazismo, porque “o que a gente enfrenta com o governo Bolsonaro é de outra natureza”.

Mônica só não disse, porque faltou o destemor que sobrou na acusação ao PT, de que natureza se trata. Como Bolsonaro está fora do poder, talvez agora ela possa dizer. Diz aí, Mônica Waldvogel.

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