As perguntas que devem ser feitas ao véio da Havan

A Polícia Federal quis saber do general Freire Gomes, o ex-comandante do Exército que delatou Bolsonaro como chefe do golpe, se ele foi procurado pelos empresários Luciano Hang, da Havan, Meyer Nigri, da Tecnisa, Sebastião Bonfim, da Centauro, e Afrânio Barreira, da Coco Bambu, para tratar da trama golpista depois da eleição de Lula.

O general disse que não, conforme depoimento cujo teor foi liberado por ordem do ministro Alexandre de Moraes e publicado pelos jornais nessa sexta-feira.

Claro que a PF precisa fazer todas as perguntas possíveis, para fechar o cerco em torno dos golpistas. Mas os empresários citados, todos sob suspeita de cumplicidade com Bolsonaro, não iriam tratar do golpe com um general que enfrentou os golpistas.

O autoproclamado véio da Havan e os outros citados poderiam conversar sobre estratégias para virar o jogo e a mesa com os militares envolvidos com a organização do golpe tabajara, e não com Freire Gomes.

A PF deve procurar saber se eles falaram sobre golpe com o general Paulo Sergio Nogueira, ex-ministro da Defesa de Bolsonaro, e com o almirante Almir Garnier Santos, seu ex-comandante da Marinha.

Ambos estavam na ativa, assim como Freire Gomes, mas em lados opostos. Os dois já estão identificados pelos próprios colegas como golpistas.

A PF também pode perguntar se Hang e seus amigos conversaram com Braga Netto e Augusto Heleno, citados a todo momento como articuladores do golpe.

Ao perguntar sobre uma possível conversa dos empresários com militares, a PF tentou acrescentar informações à delação do coronel Mauro Cid, que havia contado o seguinte ao próprio Freire Gomes, em mensagem encontrada num celular do ex-ajudante de ordens:

“Na conversa que ele [Bolsonaro] teve depois com os empresários, ele estava, tava o Hang, estava aquele cara da Centauro, estava o Meyer Nigri. É, estava o cara do Coco Bambu também, ele também. Tipo, quem falou, ó… O governo Lula. Vai, vai, vai, vai cair de podre, né. Pessoal ficou um pouco de moral baixo porque os empresários estavam querendo pressionar o presidente a pressionar o MD (Ministério da Defesa) a fazer um relatório, né, contundente, duro né? Pra virar jogo, aqueles negócios”.

Cid narrou assim ao general o que sabia da tal reunião, realizada no dia 7 de novembro, depois da eleição, em que os empresários, conta ele, foram fazer pressão e dizer a Bolsonaro que apoiariam o golpe que evitaria a posse de Lula.

O que não se sabe até hoje é se a PF perguntou a Hang o que ele estava fazendo numa churrascaria de beira de estrada de Brusque, Santa Catarina, no dia 2 de novembro de 2022, ou seja, três dias depois da eleição vencida por Lula, quando foi recebido com aplausos e disse o seguinte a pessoas fantasiadas com a camiseta da Seleção:

“O Brasil precisa de mais gente como todos vocês, que vão à luta e não aceitam o errado como verdadeiro. Temos ainda alguma chance, não sei. Se eles tomarem o poder, acabou, pessoal. Procurem um país pra viver, uma língua pra aprender. O Brasil vai virar uma Venezuela e uma Argentina, não tenham dúvidas. É o que eu sempre digo: pra onde vai seu filho, pra vai sua família. Eu tenho 400 venezuelanos trabalhando comigo, jovens. Quando no primeiro turno, todos choraram. ‘Pra onde nós vamos, Luciano?’ Então, parabéns Brusque, vamos mostrar que nós somos diferentes, porque nós trabalhamos, nós acreditamos no trabalho. Eu ontem estava numa reunião lá na empresa, e a gente nota os Estados que vão bem, e os Estados que não vão bem. Os Estados que trabalham, que acreditam na força da família, são os Estados onde tem pleno emprego, onde as pessoas têm qualidade vida. E onde elas votam errado, elas vão mal. Vão mal porque votam errado. Eu não sei quem nasceu primeiro, se é o político vagabundo, ou a pobreza. E eles não veem isso, eles são vítimas do processo que eles vivem. E agora, eu ainda acho que dá tempo. Vamos esperar”.

Os Estados que estariam mal e votaram errado são, é claro, os do Nordeste, que deram a vitória a Lula. Todo esse discurso feito naquele dia continua aparentemente solto, como se fosse algo banal, sem que se saiba nada do que aconteceu depois.

O que aquele pessoal fardado estava fazendo ali, quando se intensificavam os bloqueios de estradas, principalmente em Santa Catarina, contra a eleição de Lula? Por que o véio da Havan apareceu no restaurante no Dia de Finados e foi aplaudido?

Até hoje não se sabe o que a PF e o Ministério Público apuraram sobre a fala do véio de que, “se eles tomarem o poder, acabou”. Eles quem, se a eleição havia acabado? O mais imbecil dos extremistas de direita sabe o significado do alerta do sujeito.

O que a PF apurou, se é que apurou, sobre a afirmação do véio da Havan de que “temos ainda alguma chance”. Que chance, se a eleição tinha um vitorioso? O mais idiota dos fascistas sabe a que chance ele se refere.

Mas o que mais sabemos nós das investigações sobre esse encontro, depois da eleição, numa churrascaria, com gente golpista vestida de periquito, além do que aparece no vídeo abaixo?

Não sabemos nada. Mas teremos que saber, para que o núcleo empresarial do golpe, o único não alcançado até agora, não continue impune.

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